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A insubordinação no quartel em 10 pontos

Policiais em foco de greve no Ceará: força de segurança com cabeça coberta sem ser no combate ao crime é um péssimo sinal.

Equipe Focus
focus@focus.jor.br

1 A tentativa de impor uma greve dos policiais e bombeiros militares do Ceará, iniciada na tarde de ontem, teve uma resposta à altura por parte das instituições da democracia. É preciso sempre realçar: greve de militares é proibida pela Constituição. Trata-se de um crime. Cabe ao Estado reagir para manter o estado de direito e a segurança da sociedade.

2 O maior foco da insubordinação se deu na mesma região da greve de 2011. Em torno do quartel do 18º Batalhão da PM, no bairro Antônio Bezerra, familiares de militares, que incluíam até crianças, e militares encapuçados tentaram provocar a centelha da greve. O comando da PM, que dessa vez parece manter o controle da maior parte da tropa, fez o certo: cercou a área dos amotinados. Só era possível sair de lá, jamais entrar. Básico.

3 Policiais com capuzes é uma tentativa de impedir o reconhecimento e evitar punições. Não fica bem aos PMs, servidores cuja função primordial é manter a lei e a ordem, usando balaclavas se não for em ação de combate a bandidos.

4 No foco do movimento, o ex-deputado federal Cabo Sabino mostrava-se o principal incentivador da paralisação que, de forma antecipada, já havia sido proibida por uma decisão judicial. Pelo seu Facebook, Sabino pedia aos colegas que parassem as atividades, abandonassem as viaturas e passassem a engrossar as fileiras da greve. Uma clara incitação a uma ação proibida pela Constituição. Veja o vídeo.

5 Durante uma das falas do Cabo Sabino, via-se o deputado estadual Soldado Noélio. Conhecido por sua polidez e capacidade de dialogar civilizadamente, o deputado aparentava constrangimento com a situação. O parlamentar foi um dos negociadores do acordo salarial com o Governo. O acordo foi feito, mas a base reagiu de forma negativa à resultante.

6 Derrotado na tentativa de reeleger-se em 2018 para deputado federal, a leitura no meio político é que Sabino tenta ocupar o vácuo deixado pelos líderes (com mandatos) que fecharam o acordo com o Governo. Entre eles, o deputado federal Capitão Wagner, que compôs a mesa de negociações com o Governo e, ao fim, tratou o acordo como uma vitória. Wagner, Noelio e o vereador Sargento Reginauro estavam na mesa de negociações do acordo em que os dois lados (governo e representantes dos militares) chegaram a um ponto considerado razoável.

7 É óbvia a disputa política no seio do movimento dos policiais militares. No movimento ilegal de 2011, não havia essa característica. Hoje há vereador, deputado estadual, deputado federal, ex-deputado federal, pré-candidato à Prefeitura e pré-candidato a vereador interessado nos desdobramentos do movimento e disputando os votos dos policiais militares, bombeiros e suas famílias. É um imenso contingente eleitoral mobilizado em torno de associações que recebem significativos recursos direto nos seus caixas da mesma forma que os sindicatos recebiam antes da reforma trabalhista. Ou seja, adesão automática ao pagamento com desconto em folha.

8 A nota oficial do Governo do Ceará fez o que cabe ao Estado fazer até por dever de ofício. No caso, declarar que abrirá Inquérito Policial Militar (IPM) e Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra policiais que pratiquem atos considerados crimes militares. Incitar ou fazer greve, secar pneus e promover piquetes, por exemplo. Além disso, o Governo avisou que excluirá da folha de pagamento os policiais envolvidos. “Os comandos não irão tolerar atos de indisciplina e quebra de hieraquia”, finaliza a nota oficial.

9 O Estado age assim por ser este o seu papel. O Estado que tolerar greve de policiais militares está fadado ao fracasso, à derrocada. Será desmoralizado. O comando que perde o comando da tropa militar não tem condições de se manter à frente da segurança. Todos sabem que a hierarquia é a base da existência e do funcionamento de uma força militar.

10 Por fim, é lamentável em todos os sentidos o envolvimento de esposas e filhos dos policiais nos episódios. O cabo Sabino chegou a dizer que até mulheres grávidas estavam no foco do movimento. Considerando a delicadeza (armada) da situação, é, no mínimo, insensato.

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