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Vem aí a “vacina do Bolsonaro”

Item de exportação da Rússia e arma de grande peso nas disputas comerciais do globo, a Sputnik V pode virar o melhor cabo eleitoral de Jair Bolsonaro para 2022.

Por Fábio Campos
fabiocampos@focus.jor.br

O negacionismo e a incompetência do Poder Executivo reforçam o poder dos presidentes das duas casas legislativas que formam o Congresso Nacional. Esperem e os veremos agindo como se fossem dois primeiros-ministros em um país presidencialista.

Tanto Arthur Lira (PP-AL) quanto Rodrigo Pacheco (DEM-MG) exaltaram a ciência e as vacinas em seus discursos de posse na Câmara dos Deputados e no Senado. Não foram palavras soltas ao vento. Elas têm um sentido prático. Como é clássico, em política o vácuo não perdura.

Discretamente, avança uma articulação para viabilizar rapidamente no Brasil a Sputnik V, a vacina russa que promete uma eficácia bem maior que a chinesa Coronavac. A ideia passa pela apresentação de uma Medida Provisória batizada de “MP das Vacinas” flexibilizando os critérios para autorizar o uso de imunizantes no Brasil. Algo similar ao que fez a Argentina, que usa a Sputinik desde dezembro.

Tanto Pacheco quanto Lira estão encabeçando a articulação. Como a coisa toda necessariamente passa pelo Palácio do Planalto, dono da primazia de apresentar MPs, um dos argumentos usados para atrair o presidente foi que o movimento atropelaria João Doria, o governador de São Paulo que cresceu politicamente ao viabilizar a Coronavac.

Parece que Bolsonaro está gostando da ideia. Tanto que há sinais de que o Ministério da Saúde se movimenta em paralelo. Não foi à toa que a Anvisa passou a trabalhar para mudar as regras quanto ao uso emergencial de vacinas contra Covid-19 no Brasil. E a mudança é simples: basta retirar as exigências da fase 3 de aprovação de imunizantes especificamente relacionados à Covid. Sem essa fase, tudo passaria a ganhar velocidade.

A vacina russa tem vantagens que vão muito além da eficácia de 91,6% demonstrados por estudo publicado na revista científica Lancet. Vejam: a Sputinik V possui um fabricante brasileiro, a União Química, que promete produzir 8 milhões de doses ao mês a partir de abril se a fase 3 cair já.

E o melhor: trata-se da única empresa na América Latina que também produz o IFA, o Insumo Farmacêutico Ativo. Ou seja, não depende de componentes estrangeiros para viabilizar a vacina. A informação é de uma reportagem do Estadão.

São vantagens comparativas gigantescas que a Coronavac e a vacina da Oxford/AstraZeneca não possuem. Seus correspondentes no Brasil, o Butatan e a Fiocruz, dependem de insumos chineses para produzir os imunizantes. Além disso, a União Química garante que tem condições de importar rapidamente da Russia dez milhões de doses iniciais até que a produção local se viabilize.

Vamos ver até onde vai o negacionismo de Jair Bolsonaro e sua capacidade de auto-boicote. O presidente tem em mãos a chance de deixar as coisas bem mais fáceis para todos  brasileiros e para si mesmo.

Atualização: pouco tempo após a publicação do texto acima, saiu a informação de que a Anvisa aprovou mudanças que vão facilitar a introdução e fabricação no País de novas vacinas contra Covid-19.

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