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Retrocessos do Liberalismo, por Igor Macedo de Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

Os Estados Unidos foram, e creio que continuam a ser, a maior nação liberal do planeta, o líder do free world, defensores ferrenhos do individualismo, do liberalismo, das instituições e principalmente da independência da autoridade monetária, algo considerado como sagrado pelos defensores da política econômica ortodoxa.
Desde a criação do sistema Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, em 1913, e mais especialmente após o acordo de Bretton Woods em 1944, os Estados Unidos vem defendendo a independência da autoridade monetária para atuar principalmente a fim de garantir a estabilidade de preços, supervisionar e regular as instituições bancárias, além de gerir a oferta de moeda do país através da política monetária.
Pela primeira vez um chefe do Executivo norte-americano aparenta querer mudar essa relação. As críticas do governo dos EUA ao Banco Central politicamente independente não param de acontecer. O presidente Donald Trump pediu nesta semana uma redução de juros de pelo menos 100 pontos-base por meio do Twitter, ou seja reduzir na “canetada” 1% a taxa de juros base dos Estados Unidos. Isto poderia ser acompanhado por medidas adicionais para estimular a economia como o Quantitative Easing (compra de títulos no mercado) no modelo europeu ou japonês. Segundo o presidente Trump: “Se isso acontecesse, nossa economia seria ainda melhor, e a economia mundial melhoraria de forma significativa e rápida – seria bom para todos!”. Mas será que essa afirmação é verdadeira? Nos últimos anos, a análise econômica do presidente Trump não tem sido muito assertiva para o âmbito internacional.
Trump lamentou uma forte valorização do dólar que segundo ele “infelizmente causa dor a outras partes do mundo”, fazendo referência ao maior custo de compra de dólares para outras nações. Nos últimos meses, o presidente criticou duramente o FED e exigiu cortes nas taxas de juros sistemáticas, na prática, querendo tornar o FED como um órgão acessório do poder Executivo e não um órgão independente. Essa crítica aberta e de maneira incisiva não é apenas incomum para um chefe de Estado dos EUA, mas joga por terra toda e qualquer relação de independência histórica defendida pelo liberalismo norte-americano.
Existem quatro argumentos centrais para defender a independência das autoridades monetárias:

  1. Os governos tendem a tomar decisões erradas sobre a política monetária. Em particular, eles passam a ser influenciados por considerações políticas de curto prazo, quando o correto deve ser o objetivo de longo prazo.
  2. Antes de uma eleição, a tentação é que o governo reduza as taxas de juros, tornando os ciclos econômicos de alta e baixa mais prováveis.
  3. Se o governo tem um histórico de permitir a inflação, então as expectativas de inflação começam a aumentar, tornando a inflação mais provável.
  4. Um Banco Central independente deve ter mais credibilidade. Se as pessoas têm mais confiança no Banco Central, isso ajuda a reduzir as expectativas inflacionárias. Por sua vez, isso torna mais fácil manter a inflação baixa.

O presidente do FED regional de Boston, Eric Rosengren, por outro lado, mostrou pouco interesse em um corte de taxa, em uma entrevista recente. “Isso pode levar a um aumento preocupante da dívida dos agentes”, disse ele à Bloomberg TV. “Atualmente o maior risco é encorajar as pessoas a assumir mais riscos”. Em um momento que uma futura recessão se aproxima dos Estados Unidos, mudanças abruptas nas taxas de juros, que possam desalinhar os agentes do mercado e ao mesmo tempo fazer com que empresas e pessoas percam a confiança no FED seria um desastre ao longo prazo.
O Secretário do Comércio dos EUA, Wilbur Ross, acusou o FED de ser corresponsável pelo recente aumento do dólar. “Estamos muito chateados com a parte da força do dólar que vem da política monetária do FED”, disse ele à Fox Business. À medida que a moeda dos EUA se valoriza, os produtos americanos se tornam mais caros no mercado mundial. Concorrentes de outros países são, então, precificados em vantagem. Essa visão infelizmente tem um plano de fundo mais complexo pois coloca na variação cambial um peso forte sobre a competitividade dos produtos “made in USA”, quando na verdade a abordagem do Secretário de Comércio deveria ser sobre diminuição de custos, burocracias e abertura de mercados. Colocar taxas de câmbio como enfoque principal em políticas comerciais significa condenar a indústria local a anos de pouca competitividade no cenário internacional.
Desde o início do ano, o dólar subiu 3,3% em relação ao euro. O índice do dólar, que reflete a taxa de câmbio para as principais moedas do mundo, ganhou 2,1%. Foi logo agora no final de julho que o FED baixou sua taxa básica de juros em um quarto de ponto percentual, para 2,25%, entretanto, para o presidente Trump o FED ainda não fez seu trabalho.
Do ponto de vista do liberalismo, o que os EUA precisam deve ser o mesmo remédio adotado atualmente no Brasil, um conjunto grande e amplo de reformas que sejam capazes de aumentar a competitividade do país em diversos setores, alinhado a uma importante austeridade na política fiscal.

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