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RC e Camilo batem o centro para 2022 em jogo contra a oposição que vem mais forte

Camilo bate o centro em tabelinha com Roberto Cláudio: o jogo de 2022 está sendo jogado.

Por Fábio Campos
fabiocampos@focus.jor.br

O resultado das eleições em Fortaleza e em algumas cidades de peso estratégico foi um rotundo e certeiro aviso ao grupo que detém a hegemonia política no Ceará e na sua Capital. Derrotas em Caucaia, Juazeiro do Norte e São Gonçalo do Amarante, por exemplo, além da apertadíssima final de Fortaleza, sinalizam que pode estar em andamento o processo que a crônica política costuma denominar de “fadiga de material”.

Sim, apertadíssima vitória em Fortaleza, mas o 1 a 0 foi o suficiente para erguer a taça. A vitória significa manutenção no poder. É tempo longo e caneta na mão para refazer as posições, mudar a tática do jogo e entrosar melhor o time. Importante lembrar que os, de longe, dois maiores orçamentos do Ceará permanecem nas mãos do mesmo grupo político. É este o fato mais relevante no apurado final das eleições.

No longo exercício do poder, os desgastes são naturais. Cedo ou tarde, os ventos da mudança se impõem. É próprio das democracias. No fundo, a alternância no poder é saudável. Porém, cabe aqui uma ressalva: o instinto de sobrevivência dos Ferreira Gomes, a família cabeça da hegemonia, é extremamente aguçado.

Tão aguçado que, pela primeira vez desde 1988, Ciro e Cid mantiveram obsequiosa distância da campanha de José Sarto. Certamente seguindo orientação detectada nas pesquisas. Que orientação? A saber: a presença ostensiva de um e/ou outro poderia ser ruim para o candidato. Portanto, agiram com pragmatismo e sem vaidade. Porém, a distância mantida por obrigação, por si só, é fato repleto de sentidos e certamente levará os envolvidos à boas reflexões.

Quanto ao senso de sobrevivência política dos FGs, não foi à toa as apostas em personagens como Roberto Cláudio e, depois, Camilo Santana para se tornarem protagonistas. Quando recrutados, eram dois jovens que não representavam grupos políticos enraizados, oligarquias rurais ou coisa que o valha. Um e outro traziam em suas trajetórias características do que se pode considerar “novo’ na política.

Mas, atentem. A eleição de Camilo Santana em 2014 já sinalizou com clareza que Fortaleza ensaiava rebeldias. Candidato pela oposição, Eunício Oliveira venceu com folga na Capital (57,17% contra 42,83% de Camilo). Em 2016, na Prefeitura, Roberto Cláudio, mesmo bem avaliado, precisou de dois turnos para vencer. O mesmo se deu agora, em 2020, com um resultado final que desmoralizou as pesquisas de intenção de voto e surpreendeu aos vencedores (e provavelmente aos perdedores).

Anotem: Capitão Wagner, que errou feio no ano da eleição ao não condenar o infeliz motim policial de fevereiro, saiu da disputa maior do que entrou. Tão ínfima foi a diferença final, tivesse Wagner tido uma atitude de estadista e rompido com o corporativismo, estaria hoje, muito provavelmente, providenciando o terno para a posse como prefeito.

O lado oeste de Fortaleza votou em peso no Capitão. Não por coincidência, é a vizinhança de Caucaia, outra eleição que desmoralizou as pesquisas. Não por coincidência, Caucaia é vizinha de São Gonçalo, outra dura derrota. É nessas duas cidades que estão encravadas as jóias da coroa da economia cearense: o porto do Pecém e seu imenso complexo industrial importador e exportador.

Há um fato que chama a atenção nos resultados de Fortaleza: com justiça, a população concede ao prefeito RC generosa avaliação de sua gestão, mas, ao contrário do que se poderia esperar, isso não se transformou em votos na mesma proporção para o candidato do prefeito. Ou seja, temos um prefeito com 70% de ótimo e bom, mas, no dia D, somente 52% dos votos válidos foram concedidos ao seu candidato.

E não nos esqueçamos, quase um terço (cerca de 590 mil pessoas) do eleitorado ou não foi votar ou optou pelo branco ou nulo. Então, Fortaleza fixou assim: um pouco mais de 1/3 foi com Sarto, um pouco menos de 1/3 com o Capitão e outro um pouco menos de 1,3 com o, digamos, nada.

Daqui por diante, a grande tarefa de Roberto Cláudio, potencial candidato a governador em 2022, é conservar e propagar o legado da gestão na Capital para que, efetivamente, possa se transformar em capital eleitoral a seu favor em 2022. No poder, essa tarefa não foi completamente alcançada. Fora do poder, não será uma fácil por mais que José Sarto seja generoso para com esse legado.

Há um ponto que chama a atenção na gestão do prefeito Roberto Cláudio: sem sombra de dúvidas, foi uma administração pródiga em vários sentidos. A lista de feitos é grande. Do ponto de vista urbano, uma gestão marcadamente reformista, com uma política de mobilidade de grande impacto.

Foram tantas as ações, projetos e inaugurações, que, aparentemente, a gestão não se deu conta de falar da forma mais adequada com a população. Nesse vácuo, veio o aperto nas urnas.

A propósito: talvez o Capitão não esteja correto ao avaliar que as pesquisas lhe atrapalharam. Na véspera da eleição, elas davam uma grande diferença a favor de Sarto. Porém, não é impossível que essa folga tenha gerado um clima de já ganhou entre os governistas. Pernicioso, o salto alto desmobiliza.

 

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