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Querem comprar minha empresa. E agora? Por Henrique Lyra Maia (Parte 1)

Henrique Lyra Maia, Bacharel em Administração de Empresas, Especialização em Administração Financeira e Mestrado em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza, Especialização em Gestão Empresarial pela FGV e Doutorando em Contabilidade e Finanças pela FUCAPE Business School. Sócio da LYRA&MAIA Consultores Associados.

Com frequência somos chamados para realizar valuations de empresas de pequeno e médio porte e auxiliar na defesa desses valuations para as partes envolvidas na transação. Em boa parte dos casos, os empresários são procurados e recebem contatos para eventual compra de participação parcial ou total da sua empresa. Em nossa experiência, presenciamos certa surpresa nos empreendedores, pois não estava no seu radar ser comprado ou receber aportes de sócios investidores.

Então surge uma curiosidade muito natural entre empresários, quanto vale minha empresa? Ao iniciar o processo de avaliação, o empresário se depara com uma série de situações que o faz refletir sobre seu negócio, afinal, ele está acostumado a avaliar a empresa sob a sua perspectiva e não a de um investidor externo.

Em muitos casos o que encontramos são empresas que não estão preparadas para dar esse passo, mesmo que o empresário e o investidor queiram realizar a transação. A vontade de ambas as partes de fazer um negócio não é suficiente para que os contratos sejam assinados. São necessários cumprir algumas etapas importantes que o empresário terá que modificar no seu negócio para que, caso seja esse o objetivo, a transação ocorra.

Os casos em que empresários são procurados não são os únicos, temos também situações em que empreendedores estão há um certo tempo a procura de um investidor para financiar o crescimento da sua empresa, no entanto, os anos se passam e nada acontece.
Para que a empresa se prepare para uma transação, ela precisa passar por pelo menos três crivos: atratividade, confiabilidade e governança. Irei publicar três artigos em sequência, que pretenderá explorar cada item desses e auxiliar na preparação das suas empresas para receber investidores.

O primeiro crivo que o empresário precisa passar é o da atratividade. As empresas que são compradas são àquelas que são atrativas ao investidor. Sem ser atrativo para o comprador, a transação terá muita dificuldade de ocorrer. Isso pode parecer óbvio, mas na prática muitas vezes encontramos algumas barreiras por parte dos empreendedores. Quando avaliamos a empresa e suas perspectivas de crescimento, vemos que alguns segmentos não são lucrativos e que puxam o resultado para baixo.

A nossa recomendação é avaliar se aquele segmento é fundamental para a competitividade da empresa, caso não seja, o ideal seria separar em empresas distintas e destinar a empresa com as melhores margens e perspectivas para ser o alvo da transação. Aos olhos de muitos empreendedores isso pode parecer ser um pouco absurdo. Como irei colocar à venda apenas o que há de melhor no meu negócio?

É por meio desse raciocínio que muitas negociações não conseguem nem passar das primeiras reuniões, porque o empreendedor não quer se desfazer dos melhores negócios que ele possui. Muitos empresários insistem em querer incluir também os segmentos ruins dentro do “bolo” total a ser vendido. Como se diz no axioma popular “Quando o negócio é bom ninguém vende”, no entanto, no mercado financeiro isso não funciona. É justamente o contrário: “Os bons negócios é que serão vendidos”.

É óbvio que podemos citar vários exemplos em que isso não foi verdade, como por exemplo, o caso das empresas do empreendedor Eike Batista. Mas o empresário não deve tomar as exceções como a regra, o mercado financeiro é bastante sagaz, as empresas que conseguirão ter acesso ao cofre tenderão a ser as melhores.

Nem sempre é possível separar os segmentos porque em muitos casos são necessários para manter a competitividade da empresa como um todo. A grande questão é que em nossa experiência essa discussão nem chega a ser feita. Empresários ligam o automático acreditando que a atratividade da empresa está na junção de todos os segmentos e isso nem sempre é verdade.

Retirando os efeitos de eventuais bolhas no mercado, em tempos normais, àquelas empresas que abrem o capital são as melhores do seu segmento, com melhores margens e retornos, histórico de resultados, gestão e potenciais de crescimento. Em menor escala, as empresas de pequeno e médio porte também terão mais chances de captar recursos se passarem pelo crivo da atratividade.

Se o empresário não estiver disposto a separar os bons negócios para a venda, o que irá acontecer é que o resultado geral da empresa irá ser depreciado pelos segmentos de menor margem e eliminará a atratividade para investidores entrarem no negócio.

Os critérios para se estabelecer a atratividade de um negócio podem ser muitos, mas invariavelmente recai em basicamente três pontos: escalabilidade, potencial de crescimento e margens. Quanto mais escalável for o seu negócio e maiores suas perspectivas de crescimento, mais atrativo é o negócio a luz do investidor externo. O valor de mercado de uma empresa está na sua capacidade de gerar lucros futuros, assim, se sua empresa está em um segmento escalável e tem altas perspectivas de crescimento, isso a tornará muito atrativa aos olhos de investidores.

No entanto, não basta ter escalabilidade e potencial de crescimento, é necessário também ter margens boas. Empresas com margens mais altas proporcionam o investidor um risco muito menor no seu investimento do que empresas com margens baixas. Sempre há riscos de aumento de custos por fornecedores, queda de preços via concorrência ou simplesmente crises econômicas. Empresas com margens altas podem absorver todos esses choques sem se afetar tanto ao se comparar com negócios de margens baixas. Estes, qualquer alteração da demanda ou pressão por custos, leva a empresa do lucro ao prejuízo muito rapidamente.

Existe algumas exceções nas quais mesmo que empresa que não tenha atratividade nos termos citados acima (escalabilidade, crescimento e margens), ainda assim podem ter muito valor. Empresas que detém uma fatia de mercado relevante em um setor podem ser bem atrativas para outras empresas estabelecidas no mercado.

Nesse caso, o interesse não é pela empresa em si, mas pela base de clientes cativa nesse determinado segmento.
Há também o caso de empresas de alta tecnologia, que não necessariamente foram criadas para dar lucro, mas para viabilizar determinada tecnologia para que uma empresa maior possa adquirir e adicionar ao seu negócio para agregar mais valor, seja via redução de custos ou gerar mais valor ao cliente.
No próximo artigo, irei explorar o crivo da confiabilidade, na qual irá se aprofundar nos temas relacionados às demonstrações contábeis e financeiras da empresa.

Este é o primeiro artigo de uma série de 3

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