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Quando atraso e oportunismo se casam o prejuízo é de todos


Por Fábio Campos
fabiocampos@focus.jor.br
Há uma gritaria contra o autoatendimento no sistema de ônibus de Fortaleza. Coisa localizada. Mobiliza um punhado, mas se faz estridente. Reivindica-se que se mantenha um trocador dentro do ônibus para atender aos que querem pagar a passagem em dinheiro. Parece justo, não é? Afinal, luta-se para manter os empregos dos cobradores e luta-se pelo direito de usar o dinheiro em vez de um cartão. Parece justo, mas não é. É só oportunismo político misturado com puro atraso.
Focus apurou que, em agosto, 92% dos pagamentos de passagens já são pelo modo eletrônico. Trata-se de uma boa notícia. Simplesmente, este movimento é hoje a única forma de manter vivo esse setor estratégico e fundamental para a cidade. Sim, a única forma. Com a concorrência dos aplicativos de transporte, sobre o qual não pesam gratuidades, meias e cobradores, o sistema de ônibus, que é sistema público concedido à iniciativa privada, está comendo o pão que o capeta amassou.
Para ser justo, o surgimento dos modelos de transporte como o Uber foi só a última martelada no setor. Ao longo de anos, o populismo político fez a sua parte com a farta distribuição de gratuidades para um sistema cujo preço da passagem se baseia em uma cadeia de custos. Ou seja, quanto mais gente andar de graça no ônibus, quanto mais meias, mais cara vai ser a passagem que o trabalhador paga. Uma das resultantes disso foi a queda significativa na quantidade de usuários.
Não é à toa que várias empresas fecharam as portas nos últimos anos. Focus apurou que há outras tantas com uma corda bem apertada no pescoço. Não queiram experimentar uma cidade sem um sistema de transporte coletivo. É o caos e o campo fértil para a pirataria, com seus ônibus sucateados, e o reinado das multinacionais, que controlam Uber e 99.
Mas, voltemos ao ponto. O sistema de autoatendimento nos ônibus nada mais é que uma saída inteligente que cria as condições para dar competitividade ao setor moribundo.
O funcionamento é muito simples e acessível. Lembram-se quando o cidadão precisava comprar uma ficha para usar o telefone público, o orelhão? É basicamente a mesma coisa. Com o autoatendimento nos ônibus o cidadão precisa simplesmente carregar um cartão. Coisa que pode ser feita em três mil pontos (vejam quantos empregos gerados) ou em um simples aplicativo.
E os cobradores? Coitados, não é? Qual nada. Eram cerca de 1.500. Desses, cerca de 750 já viraram… motoristas de ônibus. O sonho da maioria. Pesquisas feitas pelas empresas indicam que outras metas dos cobradores é virar mecânico ou usar a “profissão” de cobrador como bico enquanto estuda para atingir seu objetivo profissional. Ninguém sonha em ser cobrador.
Reparem que nem o radical sindicato dos empregados do setor de ônibus está estrebuchando. Afinal, as demissões não foram agressivas e as empresas tiveram o cuidado de oferecer caminhos e treinamentos para os ex-cobradores. Além de terem virado motoristas ou hoje trabalhem nas oficinas mecânicas das próprias empresas, muitos estão em banquinhas vendendo os créditos que valem passagens.
Qual a resultante de tudo isso? De cara, empresas com menores custos. Algo em torno de 10%.  São estes que compõem o preço da passagem. Por isso, apostem sim na possibilidade de nem sequer haver reajuste no próximo ano. Outra resultante: o serviço ganha muito em eficiência. O usuário se move com rapidez, não mete a mão no bolso para pagar passagem dentro de um ônibus e não fica a espera de um troco que, muitas vezes, nem haverá.
Lembram-se do quesito segurança? Pois é. Sem dinheiro no ônibus, os amigos do alheio perdem esse estímulo para praticar crimes que tanto aterrorizam o cidadão. Não foi à toa a drástica diminuição do número de assaltos a ônibus. A propósito: no item segurança, esta é uma realidade que se reproduziu em outras capitais.
Não é uma postura muito inteligente ir contra a onda da tecnologia. Quando ela cria um conforto e uma vantagem para o consumidor, a adesão sempre vai ocorrer. É definitivamente o caso em questão. Além do conforto, o usuário não vai perder o seu crédito em caso de perda ou roubo. E o que costuma ser muito atraente: tem um sistema de descontos.
Ahh… mas tem sempre o cabeça-dura que quer porque quer pagar a passagem em dinheiro e não aderir ao sistema, que é bom para todos. Mas, fazer o que, não é? Para desanuviar a mente, sugiro uma ida ao banco, pegar a fila do caixa e fazer uma transferência de dinheiro. Para que aderir aos aplicativos bancários, não é?
 
 
 
 

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