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Psicologia bolsonarista e pitadas de psicopatologia social, por Marcelo Sidrião

Marcelo Sidrião F. Salgado. Cientista Politico e Especialista em Psicologia Jurídica. Consultor de Empresas e Professor da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).

Por Marcelo Sidrião F. Salgado
Post convidado
Não acho razoável e nem ético, utilizar conceitos psicológicos e  psicanalíticos  para analisar  ou  diagnosticar  pessoas fora do meu consultório. Mas também acho que é totalmente aceitável utilizar tais conceitos para analisar conjunturas políticas, sociais e econômicas.
Para Freud (1921) a massa psicológica é um ser provisório, composto de elementos heterogêneos  que por um instante se soldam, exatamente como as células de um organismo formam, com a sua reunião, um ser novo que manifesta características bem diferentes daquelas possuídas por cada uma das células. O celebrado texto foi escrito entre a primeira e segunda guerra mundial, no meio de um tiroteio ideológico onde imperavam o irracionalismo dos movimentos políticos de massa  sob o crescimento do fascismo, nazismo e o comunismo na Europa . O mestre de Viena ensinava  que o triunfo da  irracionalidade social se dá por meio de sugestão e contágio coletivo. A sugestão faz com que insinuações agressivas sejam aceitas como verdades.
Por que milhões de pessoas ficam surdas e cegas à luz da razão e se insurgem contra os próprios interesses? Para obter indícios de respostas é bom conhecer as especulações de um clássico sobre o tema:  “ Psicologia das Massas e Análise do Eu”   de Sigmund  Freud (1856 – 1939) . O psicanalista  alemão Wilhelm Reich (1897-1957) também escreveu sobre o comportamento das massas.  Em 1933, publicou o  explosivo livro Psicologia de massas do fascismo. Aqui o inconsciente social  é compartilhado.  Os indivíduos perdem suas qualidades individuais em substituição  aos  instintos da massa coletiva . Reich tenta responder  a uma questão deveras complexa: Porque as massas caminham como manada sob a direção de seus algozes?
Atualmente no Brasil constatamos uma  combustão de neuroses particulares,  histerias e  paranoias coletivas. No caso brasileiro, a realidade não importa.  As “Fake News” se disseminam dentro e fora das redes sociais, reforçando  aquilo em que o povão , classe média e elite querem  acreditar. A estratégia bem sucedida, neste caso, é a falsa disputa da “nova política” contra a “velha política”. Assim, as pessoas compram a falsa ideia de que há uma disputa entre o velho e o novo. Porém, a disputa, não é real. Quando digo que Bolsonaro é um “antipresidente”, não estou  sendo irônico. Jair Bolsonaro  nunca  vestirá a liturgia do cargo, como desejam  alguns . Não porque ele seja incapaz de fazê-lo, mas porque não é esse o objetivo ou meta. A psicologia bolsonarista exige polêmicas diárias, ela produz  guerrilhas e controvérsias aos montes contra pessoas, grupos e temas.
Jair Messias Bolsonaro sabe que só se manterá no poder como antipresidente. Quando ele diz que:  “No fundo, eu não gostaria de fazer a reforma da Previdência”. Ou quando afirma  que a proposta de capitalização da Previdência “não é essencial” nesse momento”. É Bolsonaro é o maior boicotador da reforma previdenciária do seu próprio Governo. Historicamente ele nunca foi fã de tais reformas. Ao lançar declarações polêmicas para o público, o governo também domina a pauta do noticiário, bloqueando qualquer possibilidade de debate real. O bolsonarismo  ocupa todos os papéis, inclusive o de simular oposição através do “Olavísmo” por exemplo. Mesmo a parcela mais organizada das minorias, que tanto Bolsonaro atacou na eleição de 2018 parece estar em transe, sem saber como agir diante dessa operação complexa.
O principal algoz  das reformas do “superministro” não é o PT , o PSOL, PDT, PC do B, a CUT ou associações de aposentados.  O principal crítico  da reforma da previdência é Bolsonaro, o antipresidente. Alguns jornalistas ironicamente dizem  que o presidente costuma “atravessar a rua para pisar em cocô de jumento, que esta  amarrado embaixo da sombra”. Bolsonarismo é adoração por um mito que promete um  novo mundo. Os  bolsonaristas usam táticas políticas muito antigas. Criam-se imagens e narrativas de ameaças “comunistas” e polêmicas contra o “Golden Shower”  por exemplo. Cria-se a  ideia  de um mundo paralelo. A alegoria substituindo  a realidade. Uma vez estabelecido um universo paralelo dentro da cabeça das pessoas, não é necessário mais nenhum argumento para a implementação de determinada política.
Diversas pesquisas de opinião realizadas recentemente mostram  que Bolsonaro é o presidente pior avaliado em  início de governo desde a redemocratização do país. Dizem que o verdadeiro Bolsonaro é Carlos, o Carluxo.  Eu gostaria de dizer ao Presidente que chega de colecionar “Likes”  nas redes sociais pois a lua de mel do atual governo com a opinião pública nacional acabou. Tem que trabalhar duro e entregar resultados.

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