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Para onde iremos? Por Igor Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

Outubro de 2020, o mundo começa a se recuperar da pandemia, aviões voltam a voar nos céus do planeta com turistas e empresários, hotéis começam a ocupar seus quartos lotando-os, salas de cinema voltam a receber os blockbusters, planos de investimento começam a sair do papel de nações como os Estados Unidos e a União Europeia.

Após a tempestade, o que corre na grande maioria do planeta é o retorno das atividades econômicas com as bolsas de valores subindo, as IPOs (Ofertas Públicas Iniciais, em inglês) voltando a ocorrer e o desemprego começando a diminuir, mas infelizmente essa história não está acontecendo fielmente no Brasil.

Nos últimos meses, o Brasil parece estar envolto em uma espécie de tempestade perfeita, algo que ocorreu em 2016 e que nenhum brasileiro da época gostaria de ver sendo repetido. Sofremos hoje com uma inflação superando os 10% nos últimos 12 meses, o nível de desemprego continua acima dos 14 milhões de desempregados, sofremos com a falta de componentes eletrônicos, o que causa impacto em diversos setores da nossa indústria, o aumento do preço do barril de petróleo a nível mundial e o monopólio da Petrobrás no refino brasileiro ameaçam a ocorrência de um iminente desabastecimento de combustíveis no país; e se tudo isso não fosse suficiente, o Governo Federal decidiu ‘quebrar a regra’ do teto de gastos, indicando aos investidores que não há limites para os gastos do governo, o que resultará em 2022 em mais inflação e taxas de juros cada vez maiores. Talvez a boa notícia é a de que a vacinação está avançando rapidamente, e o número de vítimas da pandemia causada pelo novo coronavírus  está, de fato, cada vez diminuindo.

Neste contexto, o cerne deste artigo é uma pergunta do título: para onde iremos? Do mais humilde trabalhador brasileiro até o mais graduado investidor da Faria Lima a pergunta é a mesma: o que irá acontecer com o Brasil a partir de agora? Parece que estamos perdidos enquanto quando vemos a Índia, a China, a União Europeia, os Estados Unidos, a Rússia, o Japão, a Colômbia e vários outros ‘atores deste cenário’ apresentando claramente suas metas, seus objetivos, e como irão avançar no pós-pandemia.

De nada adianta deputados, senadores, de esquerda ou de direita, falarem a respeito de Deus, de liberdades individuais, de democracia e de liberdade de expressão, se não estão entregando nenhum objetivo concreto para a melhoria da sociedade, seja como situação ou oposição. Todos esses valores são importantes, mas se ficarem apenas que nem palavras ao vento, tornar-se-ão banais e nocivos. Agentes públicos são lembrados e julgados pela sua capacidade de entregar resultados, na minha visão, sendo pragmáticos, práticos no trato com a vida e benevolentes com o bolso das pessoas.

Sendo objetivo em minhas colocações, estamos enfrentando um boicote de carne do nosso maior comprador, a China, e não há sinais de que esse boicote irá ser revertido em um curto prazo. Os motivos para isso? Críticas constantes ao governo de Pequim, seu embaixador e principalmente o Presidente Xi Jinping de maneira bem radical. Algo que custa empregos, custa faturamento de empresas nacionais e impacta diretamente no bolso das pessoas. Outro problema é que o atual presidente americano não nos respeita, líderes europeus nos tratam com desprezo, e neste ritmo ficamos e ficaremos falando com quem?

A bolsa de valores está cada dia mais volátil, os títulos públicos brasileiros já pagam mais de 13% ao ano aos investidores e devem continuar subindo, mostrando uma aversão cada vez maior ao risco e que a economia brasileira está sendo vista com desconfiança até mesmo pelos investidores nacionais. Os BDRs de ações estrangeiras no Brasil passam a se tornar mais negociados na Bovespa, mostrando que o investidor procura cada vez mais retirar das empresas nacionais seus investimentos em renda variável, o que se deduz que esse movimento deverá continuar.

Apresentando este cenário complexo sob o ponto de vista econômico, é prevista uma tempestade econômica para 2022 e 2023, e o que mais assusta é que excelentes quadros do governo do mais alto escalão foram embora, e parece que estamos assistindo aos atuais membros ‘apagarem incêndios’ todos os dias. Quem acompanha as redes sociais, consegue ver muitos leilões na área de infraestrutura com excelentes resultados, contudo esses resultados são pouco divulgados. Não quero que este texto seja visto como uma crítica irresponsável, pois estou aqui relatando fatos que já ocorreram e que estão ocorrendo enquanto escrevo, mas o que mais me preocupa é a falta de pragmatismo dos agentes.

Seja quem for o Presidente do nosso Brasil em 2023, recolocar o país nos trilhos será uma tarefa dura e deverá começar com uma pacificação nacional e com uma visão pragmática para o que é o melhor para todos. Certa vez um membro Itamaraty afirmou que o Brasil seria um pária se dependesse de sua gestão, e seu breve tempo no cargo nos colocou de fora das importantes discussões do planeta. Isso definitivamente não pode se repetir. Política e economia são intimamente ligadas e precisamos entender isso a cada dia, pois o impacto é auto correlativo.

Sou brasileiro e torço pelo Brasil, crio meus filhos neste país e quero poder entregar para eles um país com menos inflação, menos desemprego, menos violência, mais oportunidades, melhor Educação, maior integração internacional, mais praticidade na solução de problemas e a visão de mundo de que podemos e devemos ser respeitados. Para isso precisamos começar com o básico: o pragmatismo.

A frase mais pragmática que escutei nos últimos dias foi: “Não importa se o governo é de esquerda ou de direta, importa se ele entrega resultados concretos e positivos para a população.”

 

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