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Os direitos de quem os depreza. Por Ricardo Alcântara

Caricatura de Carlos Latuff

Foram presas por ordem da suprema corte 1,5 mil pessoas envolvidas no domingo sombrio em que foram depredadas as sedes dos três poderes da República por aquela gente que não tem agendas sociais e econômicas específicas, mas tem uma causa política definida: apoiar uma intervenção militar, cuja decorrência inevitável seria a instauração de uma ditadura.

Se, em defesa de qualquer outra aspiração, no quadro de uma ditadura, essa massa fascista tivesse tentado agir como agiram, tais indivíduos estariam sendo barbaramente torturados, incomunicáveis e sem acesso a recursos de defesa, para confessar os nomes dos mandantes da operação perversa.

E aqueles que se recusassem a entregar as informações exigidas seriam provavelmente levados em helicópteros, de olhos vendados e mãos atadas durante a madrugada, até a altura do oceano aberto, de onde seriam lançados às águas com peso nos pés para que seus corpos nunca fossem encontrados para receber a dignidade de uma sepultura.

Então, vinte anos depois, quando seus filhos, já adultos, fossem ao poder público reclamar o pleno reconhecimento dos fatos que cercaram a morte de seus pais, os grupos de poder remanescentes daquele período sombrio diriam que a tentativa de promover a revelação da verdade seria uma provocação desnecessária, uma tentativa de incitar revanchismos e denegrir a imagem das instituições.

É o que as ditaduras fazem com quem cultiva opinião própria e se atreve a enfrentar a força com força proporcional. Felizmente, a nossa democracia, que tanto desprezam, dará a eles tratamento inverso do que se mostram dispostos a nos impor. É assim.

 

 

 

 

Ricardo Alcântara é publicitário e escritor.

 

 

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