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Oposição: fique em casa. Por Ricardo Alcântara

Ricardo Alcântara é publicitário e escritor.

No início, o isolamento social era apenas o que deveria ser: uma estratégia de enfrentamento da crise sanitária, a pandemia do Coronavírus. Mas a reação de Bolsonaro, negacionista e até desumana, deu à medida, unânime entre governadores de ideologias diversas, um caráter político.

Fazer a oposição agora manifestações públicas, contrariando os decretos de isolamento aceitos por cerca de 60% da população, daria a Bolsonaro o cenário que ele quer: opositores relativizando seu próprio discurso e abrindo espaço para escaramuças provocativas.

Penso também que os defensores da medida não deveriam firmar posição coletiva pelo impeachment nesse momento. Não seria mais razoável esperar as conclusões das investigações do STF/Polícia Federal e agir com discurso sustentado por apuração de Estado?

A oposição precisa ganhar tempo: em paralelo às apurações, se dará mais adiante uma maior flexibilização do isolamento social, permitindo mobilizações de rua massivas, fator indispensável de pressão para uma medida tão drástica quanto é um impeachment. Até lá, que se fortaleçam nas redes de conexão interativa do ambiente virtual, de grande alcance.

O mais, é maturar. É muito provável que o presidente continue a ter perda crescente de popularidade porque a realidade conspira contra ele, que tem pouco a oferecer num cenário de aguda recessão e psicologicamente depressivo, de perdas afetivas e privações.

Não vejo com tranquilidade o prematuro semear dos ventos por Guilherme Boulos, do PSOL, em São Paulo. Posso considerar sinceridade dos comandos militares, quando afirmam não haver desejo intervencionista entre eles, mas é evidente a identificação da ampla maioria da tropa com as posições conservadoras de Bolsonaro.

Nessas condições – em tudo diferente das conjunturas em que se deram os impeachments de Collor e Dilma – penso que seria mais prudente caminhar um passo atrás dos fatos. Aguardar que a sociedade forme opinião mais evidenciada das ilegalidades que o presidente possa ter cometido.

O mais, seria colocar a carroça na frente dos bois – a receita do retrocesso.

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