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Onde está a inflação nos Estados Unidos? Por Igor Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

Para as pessoas que têm a mais básica noção de economia, sabe-se que quando se aumentam muito os gastos do Governo, um dos resultados obtidos é a volta da inflação. Vamos lembrar que os pacotes de ajuda nos Estados Unidos durante a crise da Covid-19 já superam os 5 trilhões de dólares nos últimos anos, e até então não conseguimos ver sinais claros de inflação na economia americana como um todo.

Ao contrário dos gastos comuns de política fiscal, acompanhamos nos Estados Unidos a compra de títulos públicos e privados por parte do Banco Central, o Federal Reserve, o que significou que muitos dos recursos utilizados pelo Governo para o combate à crise não foram totalmente alocados para os mais pobres, aqueles que consomem mais itens de primeira necessidade, o que causa impacto à inflação de maneira mais direta e severa.

Essa situação de compra de títulos, aliada a uma política de juros básicos da economia próximos de zero, fez com que a inflação americana despontasse em outro local, nas ações das empresas, que nunca estiveram com altas tão consistentes, apesar de que a economia global ainda está em processo de reorganização, e o desemprego no mundo inteiro ainda está em alta.

Logo, como explicar que as ações nos Estados Unidos estão em alta? Vale lembrar que o mercado de ações, como qualquer outro, funciona por meio das forças de oferta e demanda, e muitas vezes a racionalidade é colocada de lado, visando para alguns investidores apenas às oportunidades de curto prazo. Bom, nesta situação, o aumento de gastos do governo americano, especialmente quando a política monetária e a política fiscal se mostram quase que entrelaçadas, o que é uma novidade sob o ponto de vista econômico, realocou uma quantidade considerável de recursos para as empresas, seja por meio da compra de seus títulos, seja por meio dos sistemas de ajuda financeira destinada às famílias.

Essas empresas, ao contrário da grande maioria, viram suas receitas aumentarem e suas ações sendo valorizadas por causa de anomalias no mercado (intervenção do FED e auxílio emergencial americano). Partindo desse ponto, várias dessas empresas, seus acionistas e fundos de investimento começaram a alocar esses recursos dentro do mercado de ações, tendo em vista que os títulos públicos americanos estão pagando muito poucos juros. O resultado dessa situação é que a inflação americana, proveniente do aumento dos gastos do Governo, não se refletiu nos itens da economia real e sim no mercado acionário. Não é à toa que o índice NASDAQ cresceu em 43,2% em 2020, e o S&P 500 cresceu 15,76%. Neste ano de 2021, o NASDAQ já acumula uma alta de 8,93%, e o S&P 500 já acumula 11%.

Em referida situação, existem dois riscos para a economia americana. O primeiro é que a inflação se manifeste na economia real, o que forçaria o FED a elevar a taxa de juros, diminuindo a atratividade do mercado de ações e aumentando a demanda por títulos públicos e privados. O segundo risco é o surgimento de uma “bolha” no mercado acionário que poderá explodir e nos ‘lançar’ em uma nova crise. O que efetivamente pode neutralizar esse risco é o mais básico receituário da macroeconomia: a volta do crescimento da economia real dos Estados Unidos. Torçamos para que isso aconteça o mais breve possível.

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