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Ode à experiência, por Antônio Colaço Martins Filho

Antônio Colaço Martins Filho é chanceler do Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO (CE). Diretor Executivo de Ensino do Centro Universitário UNIESP (PB). Doutor em Ciências Jurídicas Gerais pela Universidade do Minho – UMINHO (Portugal), Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal), Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Autor das obras: “Da Comissão Nacional da Verdade: incidências epistemiológicas”; “Direitos Sociais: uma década de justiciabilidade no STF”. colaco.martins@unifametro.edu.br. Escreve no Focus.jor.

Por Antônio Colaço Martins Filho
Post convidado

Em conversa informal com professores de escola, ouvi o testemunho de um experimentado educador, que sacramentou: “a vida é assim… quando tudo dá certo, nós envelhecemos”. Acerca da velhice, Fiódor Dostoiévski pôs na boca do religioso “stáriets” Zósima as seguintes reflexões: “à impetuosidade juvenil sucede a serenidade da velhice (…) prefiro [o] poente [do sol] de raios oblíquos, evocando doces e ternas recordações, queridas imagens de vida, longa vida abençoada, e, dominando tudo, a verdade divina que acalma, reconcilia, absolve!”

Em um ambiente progressivamente volátil, incerto, complexo e ambíguo, dificilmente os atributos associados à maturidade são invocados por sua utilidade no processo de concepção e desenvolvimento de novas ideias. De fato, projetos e processos de inovação são comumente associados à juventude, entendimento reforçado pelo ambiente descolado e lúdico das startups e coworkings.

É forçoso reconhecer que o ímpeto transformador que costuma animar o espírito juvenil e o olhar mais fresco e menos viciado das gerações mais recentes tendem a gerar mais ideias inovadoras. Contudo, o ciclo de construir, medir e aprender, que se coloca entre a ideia disruptiva e a emissão da primeira nota fiscal da nova empresa, demanda várias qualidades mais associadas ao “poente de raios oblíquos” do que à ofuscante alvorada.

Com efeito, a elaboração, a testagem de hipóteses, bem como o aprendizado e as (re)adaptações que devem emanar desse processos são atividades que exigem resiliência, diálogo, paciência, consistência, pragmatismo, bom senso e capacidade de ler agendas ocultas (malícia) de terceiros são qualidades mais comuns no repertório emocional dos seniores do que dos jovens.

Nos processos de inovação, o impulso febril que brame nos espíritos juvenis seria beneficiado quando ponderado com as qualidades acima referidas.  Destarte, faz-se necessário resistir à sanha revolucionária que costuma arrebatar os tenros corações e, assim, rejeitar o bilioso ímpeto de realizar um corte etário nas organizações.

Em suma, no ambiente corporativo, convém seguir o exemplo do sábio da obra de Dostoiévski – cantar hinos ao nascer do sol, sem deixar, entretanto, de celebrar as vetustas luzes do poente.

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