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O que será do jornalismo? Por Leopoldo Cavalcante

Leopoldo Cavalcante é criador/autor do @resenhador e articulista de cultura do Focus. Estuda Jornalismo na Cásper Líbero (SP) e Direito no Largo São Francisco (USP).

Desde o começo do novo milênio, o jornalismo sofre alterações pouco exploradas por muitos que vivem dele. Em seu artigo na The New Yorker “How can journalism survive?”, Jill Lepore traça uma genealogia do jornalismo norte-americano.
Começando de porta em porta, quando ele ainda era jovem e trabalhava com o pai distribuindo o seu jornal pela cidade, Lepore tenta entender como chegamos aqui sem recorrer aos saudosismos de uma era passada, fazendo uma cronologia desde a tiragem diminuindo cada década que passava, o advento do rádio, os conglomerados midiáticos se formando e acumulando marcas entre os anos 1950 e 1980 até chegar na Internet e nos novos moldes de reportagem priorizados pelo meio.
Lepore traz alguns nomes fundamentais para entender o que aconteceu com o jornalismo pós-industrial: Jonah Peretti, Andrew Breitbart e Ken Lerer. Em ordem, o criador do BuzzFeed, o falecido blogueiro do canal de direita Breibart News Network e um dos cocriadores do BuzzFeed. Todos foram convocados pelo Huffington Post para aplicar ideias de tráfico midiático. Peretti criou o que foi conhecido como click-o-meter (clicômetro, em português). A forma de agir do Huffngton Post era baseada em medir cliques e tentar alcançar o máximo deles, independentemente de como. O veículo ficou conhecido como um “bandido intelectual”, roubando textos de jornais tradicionais, sem citá-los, e angariando mais views do que aqueles.
A forma de “qualidade jornalística pela quantidade de cliques” foi levada adiante por Peretti no BuzzFeed. Algumas de suas pautas, para se ter ideia do que era considerado pauta, foram “Sete melhores links sobre pinguins gays” e “Hacks para acessar pornô no Youtube”. Hoje, menos agressivo, o BuzzFeed News se alimenta, prioritariamente, de “listas” e “testes” compartilhados no Facebook, junto de propagandas camufladas como notícia. O último teste que fiz se chamava “Adivinharemos sua altura baseado nas suas escolhas”. O resultado foi 1,65m. Tenho 1,80m. Mas cliquei e fiz o teste.
Aliás, falando sobre Facebook, é nele que muitos analistas verificam a mudança. Não obstante, quando o Feed News foi lançado em 2006, logo dois anos depois, Peretti já estava de olho em como lucrar com a novidade. Quando o Facebook adicionou o botão de “Curtir” em 2009, Peretti colocou como meta atingir o máximo de curtidas no BuzzFeed. Pessoas curtiam listas. Curtiam testes. E curtiam odiar outras pessoas. Tendo lucro, que diferença faz o conteúdo?
A dificuldade das mídias tradicionais de transferir seu sucesso para as redes talvez esteja mais no modelo do que na tecnologia. Notícias sérias não dão curtidas. Basta abrir a página do Facebook da The New Yorker e comparar a quantidade de curtidas nas matérias (as mais curtas têm, em média, 20 minutos de leitura) com as charges postadas pela revista. Por um lado, enquanto a mídia tradicional não mudar seu tratamento com as notícias, a tendência é uma estagnação comercial. Por outro lado, se a mídia tradicional seguir o caminho aberto por Peretti e Huffington Post talvez entraremos num pandemônio midiático dominado por pinguins homossexuais e listas sobre princesas da Disney em suas mil variações. Haverá meio termo?
Bem, sim. Entre 2013 e 2014, o BuzzFeed passou o Times como maior jornal virtual. Longe de um pandemônio, o BuzzFeed contratou cento e quarenta jornalistas, expandiu sua área de atuação para outros lugares do mundo e produziu boas matérias jornalísticas. Um ano depois, o Times, que tem repórteres até na China, fazendo trabalho investigativo de qualidade inquestionável, lançou algumas listas à la BuzzFeed, como “Melhores livros do ano”, “Exercícios para se fazer em casa”, “Decorações bacanas” etc.
A tendência do jornalismo pós-industrial, ao que parece, é uma buzzfeedização do jornalismo tradicional e uma retomada à tradição jornalística pelo BuzzFeed.
Talvez não seja o melhor dos mundos, mas é o que temos para hoje.

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