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O impacto do coronavírus nos valuations das empresas. Por Henrique Lyra Maia

Henrique Lyra Maia, Bacharel em Administração de Empresas, Especialização em Administração Financeira e Mestrado em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza, Especialização em Gestão Empresarial pela FGV e Doutorando em Contabilidade e Finanças pela FUCAPE Business School. Sócio da LYRA&MAIA Consultores Associados.

Desde de quando o coronavírus se tornou uma ameaça a economia real, os mercados financeiros tiveram reações fortes em todo o mundo. No Brasil, tivemos um cenário único, na qual as bolsas caíram não apenas numa velocidade incrível, mas na intensidade.

Pela inevitabilidade da profissão, somos contratados para realizar muitos projetos de valuation, na qual avaliamos qual seria o preço justo de uma empresa, de modo que os sócios atuais e futuros possam realizar transações entre si. Em geral, o valor de uma empresa – ou qualquer ativo – é reflexo dos fluxos de caixas esperados para períodos futuros descontados a um custo de capital ponderado (próprio e de terceiros).

O que faz o valor de uma empresa aumentar ou diminuir de maneira repentina? Isso ocorre se a expectativa dos fluxos de caixas futuros e/ou se o perfil de risco da economia mudarem.

Diante desses trabalhos realizados e em andamento, analisamos o impacto do coronavírus no valuation desses negócios. Nessa amostra, temos diferentes empresas, de segmentos e porte diferentes, bem como estrutura de endividamento diferenciadas. O objetivo não é ter rigor científico nesse estudo, mas ter uma noção de como seria o impacto no valuation desses negócios, caso alguns cenários acontecessem. A partir desses cenários, é possível avaliar se os mercados estão realmente exagerando ou se a queda possui fundamento baseado nos valuations projetados.

A metodologia empregada foi simples, avaliamos como seria o impacto caso a empresa tivesse um prejuízo em 2020 sobre a proporção do faturamento. Foi posto três cenários, onde a empresa teria 50%, 30% e 20% de prejuízo em proporção do faturamento pré-crise e avaliar o impacto no valuation dessas empresas. Foi convencionado que em 2021 a empresa voltaria aos padrões normais do período pré-crise, sabemos que essa premissa é passível de ser questionada, mas vamos considerar essa possibilidade para simplificar um pouco mais. Por fim, vamos colocar empresas que com perfis de dívidas similares, no caso, dividimos empresas com dívida sobre valuation pré-crise de 0% a 10% e outro grupo de empresas com dívidas de 11% a 20% sobre o valuation.

A tabela a seguir mostra os resultados da projeção baseada nessas premissas, a saber:

Prejuízo s/ faturamentoImpacto médio no valuationDívida sobre valuation Impacto médio no valuationDívida sobre valuation
50%-28%0% a 10% -54%11% a 20%
30%-20% -34%
20%-15% -25%

 

Para os que acreditam que as empresas terão um prejuízo de 50% do faturamento nos próximos doze meses, o impacto no valuation estimado será em torno de uma queda de 28% a 54%. No cenário de prejuízos sobre o faturamento de 30%, a queda no valuation será em torno de 20% a 34%. Por fim, no cenário de prejuízo de 20%, a queda será entre 15% e 25%.

Por que o intervalo tão grande? A diferença está na dívida. As empresas mais alavancadas têm uma sensibilidade maior nos valuations quando o cenário muda. As empresas com dívida sobre o valuation no intervalo de 11% a 20%, tendem a ter quase que o dobro do impacto das empresas com endividamento entre 0% e 10%. Empresas com maiores níveis de endividamento possuem mais riscos, porque as parcelas com bancos permanecem fixas quando o faturamento cai. Esse risco é chamado de alavancagem financeira, que é o uso da dívida para obter maiores retornos. No entanto, em um cenário negativo, essas empresas acabam por ter um impacto maior em seu valuation. As endividadas são mais sensíveis às oscilações de mercado, provocando também oscilações maiores nos valuations das empresas quando há quedas repentinas no faturamento. Além disso, empresas endividadas tendem a se refinanciar a taxas maiores diante do aumento do aumento do risco sistêmico da economia. Isso faz com que a taxa utilizada para descontar fluxos de caixas futuros tenha que ser mais altas, reduzindo o valor da empresa. Por fim, a dívida deverá ser descontada do valor da empresa, portanto, quanto maior sua dívida, maior será o impacto no valuation para os sócios que querem comprar ou vender cotas.

Nessas projeções, consideramos prejuízos relevantes no ano de 2020, isso faz com que o prejuízo desse ano acabe por “comer” os lucros projetados nos anos seguintes, resultando na queda do valor da empresa. Vale a pena lembrar ainda que, em média, a contribuição do primeiro ano no valuation de uma empresa, varia em média entre 2-12%, dependendo das perspectivas futuras. Empresas com taxas de crescimento muito altas tendem a ter um peso do valuation menor nos primeiros anos em relação as empresas de crescimento baixo. Enquanto que nas empresas de crescimento os lucros dos últimos anos da projeção são muito maiores do que as dos primeiros anos, quando se compara com empresas de baixo crescimento, que tendem a ter fluxos de caixas com crescimentos orgânicos. Dessa forma, quanto maior for a perspectiva de crescimento da sua empresa pós-pandemia, menor será o impacto do coronavírus no valor e vice-versa.

Em resumo, quanto mais endividada for a empresa e menor for a sua perspectiva futura diante do coronavírus, maior será a queda do valuation da empresa e vice-versa. Com base em nossa experiência, o leitor pode assim ter uma noção do impacto do COVID-19 no valor da sua empresa.

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