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O despertar da China, por Rui Martinho

Rui Martinho é professor da UFC, advogado, bacharel em administração, mestre em sociologia e doutor em história. Com 6 livros publicados e vários artigos acadêmicos na área de história, educação e política. Assina coluna semanal no Focus.jor.

A China é o maior parceiro comercial de quase todos os países. Isso a faz muito influente. Acenou para o Brasil com 100 bilhões de dólares para investir. A Arábia Saudita ofereceu, pouco antes, “apenas” dez bilhões. Chineses têm o maior parque industrial, maior disponibilidade financeira, são negociadores hábeis e têm disposição para o sacrifício, seja pela especificidade da cultura ou pelo sistema político. Têm grande poder. Os investimentos econômicos e militares dispõem de uma economia que tem grande propensão a poupar. No ocidente a maior propensão é para consumir, não pode investir em escala comparável.

A ascese dos chineses é um trunfo militar. Nos últimos dias da IIGM, Dwight David Eisenhouwer (1890 – 1969) conversou com o general Gueorgui Konstantinovitch Jukov (1896 – 1974) durante conferência para acertar os detalhes do encontro de forças aliadas e soviéticas na Alemanha. Aludiu, na oportunidade, aos campos de minas. Ouviu do comandante soviético que isso não era problema, afinal os soldados que avançavam contra metralhadoras podiam avançar sobre minas. As baixas eram igualmente naturais. Democracias não podem agir assim.

Ainda que a produtividade dos trabalhadores chineses ficasse na metade da produtividade dos americanos, a economia chinesa chegaria ao dobro da americana, pela proporção numérica da força de trabalho. A tecnologia assimilada pelos chineses nas universidades ocidentais e aprendida pelos técnicos que trabalham nas fábricas levadas para lá está se equiparando e, em alguns setores, superando a tecnologia ocidental. Potencial humano, tecnologia, mercado interno, dinheiro e ascese dos chineses apontam para a conquista da hegemonia mundial.

O hedonismo ocidental não aceita sacrifícios. A Alemanha gasta 1,1% do PIB com defesa (os outros europeus não diferem muito disso); EUA 3,8%. Isso divide a aliança do atlântico norte e fomenta o isolacionismo americano. O arsenal nuclear perde credibilidade. Quem iniciaria uma guerra nuclear se a Rússia atacasse as repúblicas bálticas ou a Ucrânia? Ingleses e franceses, os únicos europeus com tais armas, dificilmente escolheriam o suicídio nuclear. A aliança da Rússia, China, Coreia do Norte e Irã poderia abrir frentes no Extremo Oriente, no Oriente Médio e na Europa. Os EUA não podem lutar em tantas guerras.

Intérpretes da IGM apontam a multiplicação dos polos de poder, a influência de pequenas potências regionais (nos Balcãs), competição industrial, lideranças despreparadas, perspectiva de mudança do equilíbrio de poder e transição cultural como fatores que levaram ao conflito, fatores presentes hoje. A rápida inovação tecnológica pode desequilibrar o poder subitamente, com prazo de validade. Logo o competidor terá a mesma tecnologia. Isso pode estimular uma guerra preventiva. Henry Alfred Kinssinger (1923 – vivo) aproximou os EUA da China. Isso permitiu enormes investimentos ocidentais na Terra do Meio. Os chineses não renunciaram a Taiwan, as áreas contestadas no mar meridional da China e na fronteira da Índia, nem se comprometeram com nenhuma limitação armamentista.

Pensando no mercado consumidor gigante e na mão de obra barata que não reivindica nada, os ocidentais despertaram o gigante. Napoleão dizia que não deveriam acordar a China. Os capitais não vieram para a América latina. Os nossos nacionalistas não queriam capital estrangeiro. Hoje, porém, não se sentem incomodados com investimentos chineses, que só querem produzir o que é do interesse da China e empregam preferencialmente trabalhadores chineses.

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