Pesquisar
Pesquisar
Close this search box.

O cadete Carolino Bolívar de Araripe Sucupira

Reconhecimento de Humaitá pelo General Osório, em 16 de julho de 1868.

CAROLINA, CAROLINO
Por Angela Barros Leal*

Em um belo dia bíblico, usando sua melhor voz de Morgan Freeman, o Senhor ordenou a Abraão que levasse seu único filho, Isaque, ao alto de um monte e ali o sacrificasse como prova de fé. Abraão procedeu como ditara o Senhor e preparou o filho para a morte.

Algo semelhante fez a cratense Carolina Clarence de Araripe Sucupira ao atender ao chamamento do Imperador, a quem ofereceu como Voluntário da Pátria, em maio de 1865, seu único filho varão, destinando-oassim a matar ou morrer no distante Paraguai.

Em carta ao Presidente da Província, Carolina apresentava-se como “uma viúva desfavorecida de bens de fortuna, cercada de numerosa família”, e não lhe sendo possível de outro modo colaborar para a “nobre e santa causa” em que o Brasil se achava empenhado, oferecia “aquilo que tinha de mais caro neste mundo”. Ou seja, seu filho Carolino Bolívar de Araripe Sucupira.

A determinação de Carolina vinha no sangue. Era filha de Tristão Gonçalves e Ana Triste, neta de Bárbara de Alencar. A Corte não perderia a oportunidade de fazer do gesto dela um exemplo no arrebanhamento de homens para uma guerra que sangrava a quase 3 mil quilômetros dali.

O Cadete Carolino alistou-se em junho, embarcou no vapor Tocantins com destino à Corte e daí aos campos de batalha, “esses campos inóspitos, onde o dever e a honra me têm abraçado com a cruz do meu martírio, como escreveu em carta à família ao saber da morte da irmã, que permanecera na segurança do Ceará. Coisas do destino.

E quis o destino que Carolino saísse ileso e heroico da batalha fumegante em Humaitá, da fúria em LomasValentinas, onde Solano Lopez se fez presente, e do caos bélico de homens e cavalos e canhões no Arroio do Avaí, pelo que receberia a condecoração de Cavaleiro da Ordem de Cristo.

Viveu uma temporada no Ceará, em atividades militares. Recebeu como recompensa imperial um tabelionato em Jundiaí, integrando-se plenamente à cidade. Deu aos filhos nomes prosaicos – Manuel, José, Antônio, Luiz, Francisco, Ana, Maria – tão diferentes do dele. Após sua morte, em 16 de fevereiro de 1897, o Major Sucupira recebeu mais homenagens do que jamais lhe seriam prestadas em sua terra de berço, que se contentou com um nome de rua para mãe e filho.

E antes que eu esqueça: Isaque usufruiu da mesma sorte. Um anjo veloz, a mando do Senhor, sustentou a tempo a mão de Abraão. Pai e filho voltaram para casa na santa paz.

*Angela Barros Leal é escritora. Suas crônicas são publicadas sempre às sextas-feiras, no Focus.

Mais notícias