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Na Europa o poder é delas, por Igor Macedo de Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

O século XXI iniciou com mudanças profundas do ponto de vista tecnológico, nas relações de trabalho e na maneira como passamos a nos comunicar. Uma mudança de destaque que podemos ressaltar é a participação feminina em posições de comando em Estados nacionais, órgãos multilaterais e fóruns de decisão mundial, com uma representatividade nunca antes vista.
A mais importante mulher da Europa é sem dúvida a atual chanceler alemã, Angela Merkel [foto], que assumiu o posto em 2005 e até hoje é a líder política mais influente nas principais decisões do continente. Sua provável sucessora será a atual ministra da defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, que é a atual líder da CDU, partido União Democrática Cristã. Na última semana a Bélgica escolheu sua primeira premiê, Sophie Wilmès, que ocupava a posição de ministra das finanças.
No âmbito supranacional a União Europeia elegeu Ursula Von Der Leyen como presidente da Comissão Europeia, órgão executivo do bloco, e que saiu do cargo de ministra do trabalho na Alemanha. Ela hoje busca montar uma comissão que seja igualitária entre os sexos.
Dentro do mundo das finanças a participação das mulheres também cresceu com a eleição da francesa Christine Lagarde para o cargo de presidente do Banco Central Europeu, cargo que ocupou após ter chefiado o FMI e ter servido como ministra da economia e ministra da agricultura na França. No último mês também ocorreu a eleição da búlgara Kristalina Georgieva como diretora geral do Fundo Monetário Internacional. Dentro dessa nova arquitetura internacional é possível dizer que as mulheres estão com o controle de grande parte do sistema financeiro internacional.
Nos Estados Unidos o Federal Reserve teve entre 2014 e 2018 a presidência da economista Janet Yellen, uma das mais competentes diretoras do sistema financeiro norte-americano. Hoje o cargo de speaker of the house, uma espécie de presidente da câmara dos deputados é ocupado por Nancy Pelosi, que se mostra uma das mais habilidosas políticas de seu tempo. O Reino Unido teve como líder do partido conservador e primeira-ministra Theresa May, que foi uma das responsáveis por negociar o Brexit dentro de um conturbado momento para o país. A Escócia tem como sua first minister Nicola Sturgeon, líder do SNP (Partido Nacional Escocês) e que poderá, em um futuro próximo, liderar a saída da Escócia do Reino Unido.
Na Nova Zelândia a primeira-ministra Jacinda Ardern ocupa o cargo desde 2017 e hoje é uma das mais importantes líderes da Ásia/Oceania ao lado de Carrie Lam, chefe do executivo de Hong Kong que busca pacificar a cidade-estado em meio a protestos por mais direitos civis.
Ainda não existe uma quantidade equivalente de homens e mulheres ocupando cargos na política, nos negócios e na economia, entretanto é significativo vermos hoje que os mais importantes cargos das economias desenvolvidas passam a ser ocupados por meio do mérito por mulheres. Isso mostra uma clara evolução dentro da nossa sociedade e, do meu ponto de vista, é um legado que se iniciou ainda na Inglaterra da década de 1970 quando a baronesa Margaret Thatcher assumiu durante dez anos o comando de seu país e ficou conhecida como “a dama de ferro”, mostrando que as mulheres podem ser ainda mais implacáveis do que os homens no mundo da política.
É importante ressaltar que essa mudança ocorre com mais força dentro dos países membros da União Europeia, que vem há muito tempo trabalhando por um sistema político-econômico de inclusão e contra a discriminação por sexo dentro dos governos e instituições internacionais. Vejo isso como uma importante evolução do ponto de vista de política de Estado, algo que mostra a competência de mulheres em áreas historicamente dominada por homens e que aparentemente já mudou para melhor.

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