Pesquisar
Pesquisar
Close this search box.

Mudanças na América Latina. Por Igor Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

Segundo dados do FMI – Fundo Monetário Internacional -, a América Latina vem passando por mudanças significativas dentro da visão econômica. As principais economias da região permaneceram inalteradas desde 1980, tendo o Brasil, o México e a Argentina como as principais nações. Isso se dá, em parte, pela imensa extensão territorial desses países, por sua expressiva população, pelos centros urbanos desenvolvidos e também por existirem grandes empresas globais nessas nações. Não é à toa que o Investimento Direto Estrangeiro nessas nações em 2020 foi de USD 44 bilhões, USD 31 bilhões e USD 4 bilhões, respectivamente. 

Claro que as refridas nações também estão com diversos problemas, em especial a Argentina que possui inflação anual de 47% e não vê soluções políticas ou econômicas em curto prazo. O México desfruta de uma importante relação com os Estados Unidos e o Canadá, o que impulsiona suas atividades industriais e seu comércio na América do Norte. O Brasil, isoladamente, possui mais de 25% do PIB de toda a região da América Latina e do Caribe, com características tão únicas que, mesmo em crises, mostra resiliência.

Entretanto, o ponto mais importante neste relatório do FMI é como outras nações estão avançando dentro da escala de importância econômica e política na América Latina, e isso definitivamente pode e deve influenciar nossas relações com nossos vizinhos. É importante relatar que a Venezuela, que era a quarta economia do continente em 1980, não aparece mais na lista das 10 maiores, o socialismo destruiu toda uma economia. 

Depois da estabilização e de um período de paz contra as guerrilhas, a Colômbia se tornou um grande e importante celeiro de Start-ups e um local onde grandes empresas globais testam seus produtos para entrar na AL. Neste contexto, em um cenário cada vez mais pró-business, a Colômbia se tornará, em 2022, a quarta economia da América Latina e pode até superar a Argentina nos próximos anos, com uma diferença de PIB entre os 2 de apenas 118 bilhões de dólares. 

O Chile, que ocupava a sétima posição em 1980, deve passar para quinta economia do bloco, com um destaque importante para o seu PIB per capita, que está em torno de USD 15.620. Vale lembrar que o PIB per capita do Brasil não passa dos USD 7.050. Apesar de ser uma nação com uma economia focada em extração mineral e ser o maior produtor de cobre do planeta, há uma visão de negócios bastante liberal e uma tendência de viés social-democrata para os mais pobres que conjuntamente criam condições importantes para o desenvolvimento econômico. 

Uma nação que chama a atenção dentro deste novo ranking do FMI é a República Dominicana, uma ilha no Caribe, que saltou de décimo lugar para sétimo, com viés de crescimento. O turismo é um dos fatores que impulsionam o crescimento econômico da República Dominicana. A República Dominicana é o destino turístico mais popular do Caribe, apresentando suas taxas de crescimento acima de 5% entre 2009 e 2018. Vale ressaltar ainda que a Nação fica na mesma ilha do Haiti, sendo a nação mais pobre da região e possuindo uma produção de ouro e instrumentos médicos relevantes para a economia nacional. 

A última e mais importante surpresa se dá pelo surgimento do Panamá como a décima economia da região. A economia do Panamá, devido à sua localização geográfica importante, baseia-se principalmente em setores de serviços bem desenvolvidos, especialmente turismo e comércio.

A entrega do Canal e das instalações militares pelos Estados Unidos deu origem a grandes projetos de construção no pequeno país, muitas vezes descrito como a Dubai da América Latina. Um projeto para construir um terceiro conjunto de eclusas para o Canal do Panamá foi aprovado pela maioria da população. O custo oficial estimado do projeto é de USD 5.25 bilhões, mas o canal tem grande importância econômica porque fornece milhões de dólares em receita de pedágio para a economia nacional e garante milhares de empregos. 

A transferência do controle do Canal para o governo panamenho foi concluída em 1999, após 85 anos de controle dos Estados Unidos. Depósitos de cobre e de ouro estão sendo explorados por investidores estrangeiros e, desde o início do século XX, o Panamá desenvolveu, com as receitas do canal, o maior Centro Financeiro Regional da América Latina, com os ativos consolidados sendo mais de 3 vezes o PIB do Panamá. O setor bancário emprega mais de 24.000 pessoas na região, e a intermediação financeira contribuiu com 9,3% do PIB. A estabilidade tem sido um ponto forte do setor financeiro do Panamá, que se beneficiou do clima econômico e dos negócios favoráveis do país. As instituições bancárias relatam um crescimento sólido e ganhos financeiros robustos que atraem investidores do mundo inteiro.

Neste contexto, é importante entender como esses Estados estão apresentando suas estratégias geoeconômicas na região, ganhando espaço, relevância e mostrando como, apesar de menores que seus vizinhos, conseguem se movimentar e se expandir. É importante lembrar que no mundo competitivo de hoje, onde Estados e empresas têm interesses entrelaçados, o desenvolvimento econômico é sinônimo de poder e influência. Essas estratégias devem estar no “radar” do Brasil para sabermos como nos posicionar e como aprender com o desenvolvimento dos nossos vizinhos. 

 

Mais notícias