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Motim, crescimento da violência, “irmãos de farda” e a complexidade que é gerir a Capital

Capitão Wagner durante movimento reivindicatório das associações ligadas a policiais militares.

Entre janeiro de 2019 e janeiro de 2020, o combate à criminalidade no Ceará alcançou ótimos resultados. Foram quedas recordes e em sequência nos índices de homicídio, o termômetro internacional para medir o nível de violência numa sociedade.

No referido período, o Ceará e, principalmente Fortaleza, conseguiram estabelecer um clima de paz como há tempos não se via. Algo claramente perceptível no cotidiano da Capital, cujas ruas e calçadas ganharam novos fluxos de pedestres que já se sentiam minimamente seguros para recocupar os espaços públicos.

A partir de fevereiro, a coisa degringolou novamente. Já durante o absurdo motim daquele mês, os índices de criminalidade voltaram a patamares graves. Desde então, os números mantiveram-se em grande escala.

Em recente entrevista ao Diário do Nordeste, Camilo Santana fez a sua leitura sobre o fato. Em resumo, o governador disse que o motim de PMs, comandado por um punhado de líderes  com mandatos políticos e que se organizam como um sindicato, foi o marco para a violência retomar níveis anteriores à “pax” de 2019.

“Não tenho dúvida que houve um movimento de desorganizar a Polícia. E desorganizou. Do motim pra cá continua. Isso é um reflexo desse movimento, estamos tentando reorganizar. Isso abriu brecha muito grande pro crime… Coincide também o ano eleitoral, temos candidato à prefeito policial, temos interesses…”, disse o governador na entrevista.

Líder do motim de 2011 e arrastado para o apoio velado ao motim de 2020, eventos que aterrorizaram o Ceará, o deputado federal Capitão Wagner, que deverá ser candidato a prefeito de Fortaleza, entendeu que o recado do governador era pra ele. E reagiu. Em tom elevado, dedo em riste ao estilo da estética bolsonarista, Wagner fez uma live para dizer que a criminalidade é decorrente do uso de policiais para “organizar filas de bancos” e “conter manifestações contra o governador”.

Para ele, isso desviou os policiais de suas atividades fins, mesmo que essas ações, que realmente ocorreram durante as fases mais duras da pandemia, tenham sido eventuais, em curto espaço de tempo e com baixa mobilização de PMs.

Na mesma live, Wagner reclamou da “grande mídia” (a culpada de sempre de nove entre dez políticos da direita à esquerda) que, segundo ele, não divulgou a prisão de um “criminoso” que teria “envolvimento” com pessoas ligadas ao Governo. Ainda segundo Wagner, com o tal homem, a PM teria encontrado armas de grosso calibre e um celular com fotos, inclusive ao lado do governador. O Capitão não disse de quem se tratava.

De resto, Wagner usou o seu verbo da forma peculiar que caracteriza a construção de sua trajetória política: totalmente voltado para a corporação cujos membros e familiares formam o grosso do seu eleitorado. Como gosta de dizer o Capitão, os seus “irmãos de farda”.

A julgar por suas últimas lives, nota-se que o Capitão aumentou o tom de vez e até se dedicou a responder comentários oriundos de quem não tem peso no jogo eleitoral ou mesmo mandato eletivo. Não se percebe esforços em buscar linhas de discurso compatíveis com o que se espera de um candidato a prefeito. É notória a dificuldade de ampliar sua fala para além da questão dos interesses da corporação policial.

Esse comportamento é limitante para um político que já possui uma década de vida partidária, veterano do ramo, exercendo mandatos parlamentares e com pretensão de gerir uma Capital com múltiplos e difusos interesses e extrema complexidade urbana, econômica e social.

 

 

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