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Medidas de isolamento são fundamentais, mas ruína econômica precisa ser enfrentada já, diz médico

Por Fábio Campos
fabiocampos@focus.jor.br

Focus conversou com o médico Heitor Gonçalves acerca da controvérsia entre o confinamento e a necessidade de fazer a economia rodar. Para ele, “as medidas de isolamento são fundamentais e imperiosas, mas, paralelo a isso, vejo claramente que um debacle na economia será o caos pós caos. Isso tem que ser enfrentado, e agora!”

Heitor Gonçalves é Dermatologista, Sanitarista, Doutor em Farmacologia, ex-diretor da Fundação Nacional de Saúde na Bahia e Ceará. Atual diretor do Centro de Dermatologia Dona Libânia, em Fortaleza.

Focus – As políticas de quarentena devem atingir a todos, incluindo os mais jovens?
HGEu diria que as políticas de isolamento devem atingir a todas as pessoas, cada uma dentro das suas possibilidades máximas, fazendo o isolamento possível. Aí , me refiro aos profissionais de saúde, motoristas de transporte público, jornalistas, trabalhadores de supermercados e farmácias, profissionais da segurança e tantos outros que não podem parar de trabalhar totalmente. Mas também àqueles que podem ficar permanentemente em domicílio, como estudantes em paralisação de aulas por exemplo e, principalmente, aos idosos.

FocusExistem pessoas que têm questionado a importância do isolamento na pandemia. O que achas disso?
HG
– Para mim, não há a menor dúvida que o isolamento e a diminuição da circulação das pessoas são as melhores estratégias para a redução do contágio em grande escala e de forma aguda. Não se quer dizer que o isolamento levará obrigatoriamente a uma redução do total de casos. Não! Mas levará a que não surjam milhares de casos em pouquíssimo tempo, o que irá levar ao colapso do sistema de saúde. E veja que já vivíamos em um sistema caótico, bem antes do Covid-19, para cuidar das suas necessidades urgentes de outras pessoas com, por exemplo, infarto do miocárdio, insuficiência renal, câncer, outras infecções graves e tantos outros agravos. Essas pessoas continuam aqui e se somarão a todos os casos de Covid-19 que precisem de assistência. Daí a importância de se evitar o surgimento de muitos casos em pouco tempo. Daí, a importância de se isolar para, no mínimo, aumentar o tempo de surgimento dos casos, e, assim, reduzir as possibilidades de colapsos no sistema de saúde, o que, aumentará o número de pacientes desassistidos, a força de transmissão destes, e o número de óbitos. A importância do isolamento já foi demonstrado na redução geral da China, após a implantação do mesmo, bem como na Itália, onde, cidades que fizeram o isolamento precocemente, tiveram picos de casos bem mais baixos que outras que não o fizeram. Demonstrarei isso abaixo.

Na Itália, duas cidades, Lodi e Bergamo. Uma adotou o afastamento social em 23.02 e a outra só em 08.03. Veja a diferença na evolução dos casos.

FocusHá um dilema entre os esforços na área de saúde para combater a pandemia em detrimento da economia. Como equilibrar isso?
HF –
Entendo que as medidas de isolamento são fundamentais e imperiosas. Mas, paralelo a isso, vejo claramente que um debacle na economia será o caos pós caos! Isso tem que ser enfrentado, e agora! Esse é, na minha opinião, o novo e grande desafio dos governantes, Federal, Estaduais e Municipais. É a hora de sermos criativos no intuito de se evitar esse caos, não diria nem posterior, mas já paralelo.

FocusQuais as atitudes possíveis pára essa convivência?
HFTenho visto alguns bons exemplos, tais como:
– O uso de pia e álcool gel na porta dos supermercados, acompanhado da oferta de máscara obrigatória para quem vai às compras e para os funcionários (esses também com álcool gel). Isso aumenta a procura com mais segurança.
– A orientação para que os pequenos comércios funcionem todos só com regime de entrega na porta e, quando puderem, também domiciliar.

– O uso de máscara e álcool gel para todos os condutores de transporte coletivo.
– Programas de incentivo aos comerciantes e empresários, para se evitar demissões.
Enfim, são vários exemplos que devem ser pensados e implementados, na minha opinião o quanto antes, pelos governantes.

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