Na última semana assistimos ao encontro dos 348 delegados do Comitê Central do Partido Comunista da China (CCP), quando aprovaram sua terceira “Resolução Histórica”, que procura consolidar o poder de Xi Jinping como líder do partido e do país por mais de dois mandatos consecutivos. Na prática, o que ocorre na China é tentar consolidar o poder de Xi Jinping como um líder supremo e não apenas como presidente do país. O seu objetivo é manter o poder e tornar-se tão poderoso como foi Mao Tse-Tung e Deng Xiaoping, e aparentemente deve conseguir seu feito.
Entretanto, gostaria de deixar a política partidária da China de lado e focar em alguns aspectos que podem ser úteis se os adotarmos no Brasil. Apesar de a China ser sim uma ditadura com métodos políticos reprováveis, com perseguição aos opositores, falta de livre imprensa e um sistema radicalmente dominado pelo comunismo chinês, existem alguns exemplos de atitudes que foram tomadas ao longo de décadas que revolucionaram a administração nacional e tornaram a China uma potência econômica em pouco mais de 30 anos.
Existe na China o que o próprio Xi Jinping descreve como sendo as quatro condutas nocivas de que um país deve livrar-se e que serve como uma ‘luva’ ao Brasil. A manutenção dessas condutas só gera atraso, sofrimento e problemas para a administração pública e consequentemente para a população. O primeiro é o Formalismo; ou seja, uma manutenção exagerada da observância de regras, dos preceitos, dos métodos e do rigor de tal modo que impeça qualquer tipo de inovação, melhorias ou mudanças sociais. O segundo é o Burocratismo; ou seja, a predominância excessiva da burocracia dentro do governo de modo a tornar a vida das pessoas complicadas e demasiadamente complexas. A terceira é o Hedonismo, que é a procura incessante pelo prazer como principal objetivo de vida, colocando o trabalho e os objetivos comuns da sociedade em segundo lugar. Por último, e não menos importante, a Extravagância e o uso de atividades públicas de maneira excêntrica e fora da normalidade para os padrões de uso da sociedade e que são pouco relevantes para todos.
Nesse ponto, venho a perguntar: o que podemos aprender com o governo comunista de Xi Jinping? Acredito que as quatro condutas nocivas têm relação com a eficiência. Seja uma democracia ou não, a sobrevivência e consequentemente a evolução dos governos dependem de eficiência, dependem de entregar mais e mais resultados para os cidadãos, e assim a nação consegue crescer sob o ponto de vista econômico e social. É inegável que a China conseguiu isso, e o Brasil ainda não. Estamos vivendo mais uma década perdida por falta de rumos e por falta de coesão. Todas as condutas nocivas chinesas infelizmente já temos no Brasil hoje, e será necessário um esforço hercúleo para que possamos retirar essas que são fontes de corrupção dentro de nossa sociedade e que invertem o Contrato Social, fazendo com que os cidadãos trabalhem para o Estado e não o Estado para o cidadão.
Outro importante ponto que o Brasil pode se espelhar na China é o chamado conceito da Tríplice Representatividade e o Desenvolvimento Científico. Esse conceito se baseia em representar as forças produtivas sociais avançadas que significam priorizar a produção econômica, representar o curso progressivo da cultura nacional e representar os interesses fundamentais da maioria, o que significa consenso político das atitudes nacionais. Infelizmente esses elementos ainda se mostram longe de ser uma realidade no Brasil e se entrelaçam com os problemas das quatro condutas nocivas.
Meu ponto de vista neste artigo não é político, mas sim pragmático. Sem uma visão clara e um plano objetivo do que queremos que o Brasil seja hoje e amanhã estaremos condenados a nos tornarmos a “nação do futuro que nunca chega” e avançaremos ano a ano por décadas perdidas com limitado crescimento. As consequências disso são radicais e cobram o preço hoje com a violência crescente nas cidades, com a falta de inovação na indústria e impondo descrença nas instituições. O pragmatismo, a visão e a ação devem estar alinhadas e uniformes se queremos ter alguma chance de transformar nosso país e melhorar a qualidade de vida de nossa população.