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Janja presidente, por que não? Por Ricardo Alcântara

Quando digo para os amigos que Janja poderá ser candidata à sucessão de Lula (por lei, sem direito à reeleição), eles em geral reagem com surpresa e incredulidade.

É compreensível: a discussão é precoce para qualquer movimento de articulação e a alternativa não seria mesmo nada convencional, o que desafia o leitor a pensar fora da caixinha.

Hoje, vi que não estou sozinho. Em entrevista à Folha, a paulistana Marta Suplicy, uma política com muita estrada e que conhece o baralho dos ciganos, vê a possibilidade com a mesma naturalidade.

Lula não conheceu Janja numa esquina. Ela tem experiência como militante política, um fator muito mais importante do que muita gente pensa. Sobretudo no PT. E pode, durante o governo, demonstrar capacidade e conquistar confiança. Tem tempo para isso. A ver.

Janja é mulher (um ativo nos dias de hoje, não duvidem), tem um perfil pessoal alegre e comunicativo (isto é, “morena como vocês”). Vem do Paraná, na região Sul, hoje um reduto conservador que a centro esquerda precisa reconquistar.

Tendo Lula a seu lado em todas as horas, pode representar uma continuidade de seu governo se a ele faltar, aos 81 anos, energia suficiente para dar conta da pedreira que é aquela coisa lá.

No entanto, como primeira dama, Janja precisa ter muita habilidade para, a um só tempo, se expor afirmativamente como mulher, mas se preservar por ser um alvo fácil para quem queira atingir seu marido presidente.

Precisa, também, de foco: direcionar sua energia para alcançar resultados em uma área temática que dê a ela tanto a oportunidade de demonstrar capacidade quanto um perfil politicamente mais definido.

Muitos dirão: é cedo para pensar em sucessão. Conversa fiada. Isso não existe no espaço real da política e Lula sabe bem que a improvisação é um método de alto risco. Tudo que está dito acima ele tem como hipótese. Veja bem: hipótese (hypo thesis, conjectura). E o coração tem razões próprias. Poderosas razões.

É uma conjectura ousada? É, tanto quanto os muitos desafios inesperados que a história já exemplificou. Tampouco é algo inédito no mundo emotivo da latinidade: se não temos um Papa, nem um Messi, podemos ter pelo menos uma Evita.

Ricardo Alcântara é escritor e publicitário

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