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Emoção e rejeição política, por Marcelo Salgado


Por Marcelo Salgado
mssalgado62@gmail.com
A ideia de que as emoções estimulam comportamentos políticos é muito antiga. O filosofo grego  Aristóteles,  afirmava que muitos oradores sensibilizavam as massas na antiguidade  utilizando um tipo de retórica  cheia  de sentimentos  denominada Pathos.  Já no século XV, Maquiavel  demonstrou que  o príncipe  deveria não somente  ser amado pelos súditos, mas principalmente temido.  No início do Século XX, Max Weber chamou de carisma a capacidade de dominação política por meio de atributos inerentes e excepcionais que estimulam a adoração aos lideres populares. Mais recentemente, na era da mídia digital, várias pesquisas e estudos emergiram com a intenção de demonstrar o impacto dos apelos afetivos inerentes às campanhas eleitorais.
As emoções não estão separadas da mente, mas sim constituem um importante arranjo no processo cognitivo. Uma  parcela importante dos especialistas em  psicologia política vem tratando de analisar de maneira parcimoniosa o impacto das emoções dentro do processo de tomada de decisão e escolha eleitoral. Tal literatura  está  muito interessada em compreender  como as emoções  e razão estão entrelaçada, e nessa dinâmica, entender de que forma a convergência entre esses dois fatores produz comportamentos e escolhas políticas.
Também chamada de “fadiga de material” ou “bile eleitoral”, a rejeição política  é  um dos indicadores de voto mais importantes em qualquer cenário ou  ambiente eleitoral . Todos sabem que a uma alta taxa de rejeição política  é um câncer que pode levar qualquer  agente público   à derrota nas urnas. Quais motivos levam o eleitor a rejeitar um político ?  Que fatores subjetivos e objetivos imperam na formação da vontade do  cidadão? São vários os fatores que determinam  as decisões comportamentais  do eleitor.  Podemos considerar entre tantas variáveis a  sua  aparência física, o timbre de voz, trejeitos e cacoetes, o nível de escolaridade,  riqueza  ou honestidade, sua raça, credo religioso ou origem geográfica.  A rejeição por vínculo ou “osmose” também  acontece  pelo simples fato do  político  ser parente, amigo ou apadrinhado desse ou daquele nome  ou partido político  decadente . A rejeição eleitoral é um longo e tortuoso  processo de   “desconstrução” ou “queimação”.
Há casos em que o padrinho  do candidato, a sigla do partido , a cor do partido, o símbolo, um determinado parente, precisam  ficar escondidos  durante a campanha ;  tamanha é o azedume  da sociedade a determinadas siglas , personalidades , símbolos e cores partidárias.
Do  ponto de vista   psicológico  a taxa de rejeição eleitoral  é um péssimo  agouro pré-eleitoral,  que tende a aumentar se não forem tomadas  as providências urgentes e  cabíveis em cada  caso específico e  concreto.  As pesquisas eleitorais  no Brasil , servem  de termômetro para medir o humor dos eleitores, funcionam muitas vezes  como uma “bússola” ou “lanterna na popa”  do navio e nunca como “lanterna na proa”  do navio. Ou seja: As pesquisas políticas   no Brasil medem  mais  aquilo que aconteceu no passado, muitas vezes não detectam as últimas tendências. Pergunta-se em quem o eleitor votaria se a eleição fosse hoje; mas não se pergunta porque vota no candidato “X” ou porque rejeita o candidato “Y”.  É ai que a famosa  margem de erro com 2% pra mais ou pra menos estoura e o intervalo de confiança  prometido de 95% vai para o espaço sideral.
O impacto das emoções na formação  da intenção de  voto do eleitor brasileiro no segmento C-D-E  tem sido  devastador. O marketing Político praticado no Brasil em 2018 seguiu o receituário tradicional : Demonizar a lucidez e fomentar os impulsos emotivos. Porém , a  clássica antítese entre razão e emoção é uma falácia.  O comportamento do eleitor brasileiro é  muito complexo  e a cada  eleição o  cidadão  vem decidindo sua intenção de voto na penúltima hora.
Fazer prognóstico sobre  o futuro  de uma eleição é tarefa mais complexa e  exige  percepção  social e  política muito apurada.   Temos que pensar fora da caixa e além dos números, gráficos  e margens de erro. O recado das urnas no primeiro turno da eleição presidencial em 2018 foi claro para os políticos, marcas e reputações: Posicionem-se, nada de ficar em cima do muro ou na garapa.
A memória do eleitor cidadão é parte da sua  identidade, é onde ele armazena as informações aprendidas. Cada vez que um indivíduo recebe novas informações, ele as processa de acordo com o que foi armazenado.
O estudo das emoções políticas e   do comportamento  eleitoral vem ganhando cada vez mais espaço entre os psicólogos e cientistas políticos. Quanto mais emocional é uma pessoa, maior é a probabilidade dela ser dominada pela obsessão, desilusão e demagogia. As emoções e sentimentos têm capacidade discriminatória e, desse modo, podem influenciar  fortemente nossas escolhas. O Partido dos Trabalhadores, ainda faz de conta que não entendeu o recado das urnas, mas é fato que o antipetismo  tomou conta do Brasil. O   chamado “efeito manada”  derrubou Dilma Rousseff, garantiu que Lula continuasse preso e agora vai eleger Jair Bolsonaro no segundo turno. Só resta agora  judicializar a campanha do adversário em forma de terceiro turno.
A opinião pública brasileira e mundial historicamente se movimenta como um pêndulo de relógio antigo. O sentimento do povo nas ruas brasileiras atualmente  é que políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelos mesmos motivos.

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