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Em entrevista à CNN Internacional, Sarto critica Bolsonaro e diz que País vive uma “tragédia humana”

Equipe Focus
focus@focus.jor.br

Em entrevista à CNN internacional, na manhã desta sexta-feira, 16, o prefeito de Fortaleza, José Sarto, classificou a pandemia no Brasil como uma “tragédia humana” e disse que “faltam vacinas”, “equipamentos” e “oxigênio”.

Durante a entrevista, Sarto, que participou de um vídeo com outros prefeitos brasileiros pedindo ajuda internacional, voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro na condução da crise e afirmou que Bolsonaro “é contra as vacinas” e “o único líder no mundo que não concorda com o lockdown”.

Sarto disse ainda que o País é mal visto no mundo por culpa do presidente. “Ele não usa máscaras” e “promove encontros e aglomerações”, disse o prefeito de Fortaleza.

Sarto garantiu que a articulação nacional de gestores municipais não tem viés ideológico. “Não é política, a gente só quer tentar salvar vidas. Porque é a obrigação da minha função como prefeito. Minha e dos demais. Porque a gente representa junto mais de 150 milhões de brasileiros”.

COVID em Fortaleza
Com mais de 6,7 mil óbitos por COVID-19, Fortaleza é a quinta cidade brasileira com o maior número de mortos pela doença, com uma taxa de 253 óbitos por 100 mil habitantes, superando a média nacional (174 por 100 mil).

Leia a íntegra da entrevista:

Senhor, em suas próprias palavras, por favor, nos descreva, quão ruim é a situação?
Primeiro eu queria agradecer a você e à CNN por nos dar a chance de conversar com o mundo e mostrar como está a situação no Brasil. Eu simplesmente descrevo como uma tragédia humanitária, o que estamos passando aqui. Tenho certeza que você sabe que os casos de morte atingiram quase 5 mil pessoas ontem no Brasil. Nós alcançamos um número de 366 mil mortes desde o início da pandemia da Covid-19. Por isso, nós decidimos unir todos os prefeitos para pedir ajuda, pedir auxílio de equipamentos médicos e pedir vacinas. Como você disse no início do programa, nós só atingimos até agora 3,8% da população com a segunda dose da vacina.

O presidente culpa você, culpa os prefeitos, culpa os governadores, mas não culpa o próprio governo dele. O que você fala sobre isso?
Durante esse governo, nós já tivemos quatro ministros da Saúde. Cada um tem o seu próprio ponto de vista, que estão sempre convergindo completamente da visão e do que os prefeitos e governadores ao redor do País estão fazendo para combater a Covid-19. Como você pode ver, tenho certeza que o mundo todo sabe, as decisões dele estão completamente ligadas a uma visão política. Mas isso não pode ser assim, estamos lidando com uma questão de vida, a vida das pessoas. Por isso, a gente está tão preocupado. Os prefeitos do Brasil criaram esse consórcio pra tentar comprar suprimentos médicos e vacinas. Por isso pedimos à comunidade mundial para nos ajudar. Porque nós estamos precisando desesperadamente de ajuda.

Então, você já conversou com algum líder internacional? Quero dar a você essa oportunidade, de se dirigir diretamente à comunidade mundial e pedir ajuda. Com quem você já falou, com quem precisa falar e do que precisa nesse momento?
Nós precisamos falar com qualquer autoridade de fora, com a OMS, mas ainda não tivemos a oportunidade de falar diretamente com essas instituições. Nós decidimos criar esse grupo com o suporte da lei e da Suprema Corte e estamos tentando chamar a atenção dessas lideranças para que consigamos doações ao nosso consórcio para comprar as vacinas, principalmente. Só aqui em Fortaleza, temos uma média de 50 mortes por dia. E isso é muito preocupante. Eu como prefeito, preciso vacinar as pessoas. Mas nós não temos vacinas suficientes. As vacinas assim que chegam em Fortaleza, nós vacinamos de imediato. Chegamos a conseguir vacinar 90 mil pessoas em três dias. O que a gente precisa é isso: vacina, suprimentos médicos, kits de intubação, oxigênio. E por isso eu estou agradecendo, novamente à CNN, por essa oportunidade de chamar atenção do mundo para o Brasil. O Brasil precisa sofrer uma pressão política mundial, precisa haver um debate na corte internacional a respeito dessa grave situação, para conseguir parar a pandemia aqui.

O presidente criticou os que estão apelando por ajuda e disse que o Brasil não deveria chorar o leite derramado. Ele também disse que apenas Deus pode tirá-lo da cadeira da presidência, e claro, tirando sua vida. Mas eu me pergunto se esse é um homem que está equipado para fazer o trabalho e, se não, o que deve acontecer a seguir?
Eu acho que a gente precisa juntar todos os cidadãos, os políticos que têm boa intenção de fazer isso, tudo dentro da lei. Nossa Suprema Corte está pressionando, nosso Congresso está pressionando. Mas acho que você sabe que nosso presidente tem uma posição política, ele é o único líder no mundo que não concorda com isolamento, com lockdown, ele é contra as vacinas. No início da pandemia, ele disse que a Covid era apenas uma “gripezinha”. Ele disse que as vacinas não deveriam ser compradas. E a posição dele está causando muita confusão e desinformação pelo Brasil. Ele não usa máscara, pra onde ele vai é sem máscara. Ele mesmo promove encontros e aglomerações. Esse não é o comportamento que a gente espera de um líder. O que o Brasil precisa realmente é um líder de verdade.

Muitos brasileiros concordam com você e dizem que o governo é negligente, está falhando pra eles. E a Suprema Corte no Brasil decidiu permitir a investigação da gestão na pandemia. Vamos monitorar isso, claro. Mas eu me questiono, muitos países fecharam suas fronteiras com o Brasil. Eles efetivamente veem o país como potencial um risco à saúde, à segurança. Não é o único país com fronteiras fechadas, mas nós continuamos vendo mais e mais países fechando suas fronteiras e cancelando seus voos do e para o Brasil. Você concorda que essa potencial variante do vírus do Brasil é efetivamente um risco para o mundo?
Eu acho que esses países têm suas razões e eu não os culpo. Porque a gerência da crise aqui está muito distante do que a gente precisaria. Tenho certeza que você sabe que essa variante daqui está se espalhando em uma velocidade que a gente não pode controlar. Recentemente até a França fez uma piada com o tratamento com cloroquina, constantemente defendido pelo presidente, principalmente no início da pandemia. Então, infelizmente, o Brasil se transformou no epicentro da Covid-19 no mundo. É uma pena pra gente constatar isso, mas precisamos ver isso como é, é uma realidade. Por isso o consórcio de prefeitos está tentando entrar em contato com organizações internacionais para conversar e pedir ajuda, pra trazer paz. Não é política, a gente só quer tentar salvar vidas. Porque é a obrigação da minha função como prefeito. Minha e dos demais. Porque a gente representa junto mais de 150 milhões de brasileiros. Representamos todas as capitais do Brasil. O que estamos tentando fazer, além de discutir políticas, mas discutir a saúde e como lidar melhor com a pandemia da Covid-19.

 

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