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Em carta aberta ao governador, médico pede que escolas permaneçam abertas

João Flávio Nogueira Jr. Médico Otorrinolaringologista – CRM(CE) 9344 RQE: 4414

Equipe Focus
focus@focus.jor.br

CARTA ABERTA AO GOVERNADOR CAMILO SANTANA

Caro Governador.

Vossa excelência tem tido um papel exemplar nessa pandemia, atuando com serenidade e se baseando em pareceres técnicos, respeitando a ciência na grande maioria das vezes.

Entretanto, nesse último decreto divulgado dia 17/02/2021, acredito que o senhor não tomou a decisão mais correta, baseada nos princípios e dados gerados pelo seu próprio comitê científico de saúde.

Senão vejamos:

1) Referências bibliográficas diversas, em vários países do mundo, mostram que as escolas NÃO são ambientes de alto risco para COVID-19 ou até mesmo de contágio significativo pelo vírus causador dessa doença (SARS-CoV-2);

2) Outras referências científicas e dados do próprio estado do Ceará mostram que crianças e jovens com COVID-19 pouco necessitam utilizar leitos hospitalares (e menos ainda leitos de UTIs) por serem muito pequenas as possíveis complicações nesse grupo etário causadas pela doença, o que não configura uma pressão no nosso sistema de saúde;

3) Esses mesmos dados mostram que tampouco trabalhadores e professores dessas escolas (públicas ou privadas) estejam sob risco moderado ou elevado de contágio pela doença. Os riscos desses trabalhadores e professores nas escolas é igualmente muito baixo;

4) Educação, uma das bem sucedidas conquistas e bandeiras do grupo que hoje está no poder no estado, do qual o senhor também é representante, é uma das únicas formas conhecidas que temos que diminuir as diferenças sociais gritantes que há em nosso estado;

5) Houve conquistas importantes nos últimos governos, principalmente na educação básica no Ceará, e essas conquistas não podem ser perdidas;

6) As escolas são ambientes fundamentais para que essas conquistas ocorram. Além da própria educação formal, são ambientes necessários para a socialização e o desenvolvimento neuro-psicossocial das crianças;

7) Ademais, escolas são muitas vezes fundamentais para a própria alimentação de algumas das crianças vulneráveis (que muitas vezes não têm comida e casa e se alimentam nas escolas), e que tampouco têm meios (computador, tablet, acesso à internet, etc) ou ambientes propícios em casa para um ensino à distância minimamente adequado.

8) Sou médico otorrinolaringologista e atendo pacientes com COVID-19 diariamente. Tenho visto os casos aumentarem de forma exponencial nessas últimas semanas aqui em Fortaleza. E entendo que medidas devam ser tomadas, como foram tomadas sempre que necessárias pelo senhor;

9) Apoiei e apoio muitas dessas medidas tomadas no passado, algumas duras para a economia do nosso estado, como o próprio “lockdown”;

10) Mas não posso concordar com essa medida de agora, penalizando toda uma geração de crianças, tirando a oportunidade de algumas delas, principalmente as mais vulneráveis, de uma educação transformadora ou libertadora que possa diminuir as desigualdades sociais que há em nosso estado;

11) Entendo que devido ao aumento de casos deva haver fechamento de alguns setores da economia, para que possamos mais uma vez tentar salvar a maior quantidade de vidas possível, mas as escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir;

12) Aprendemos muito com a pandemia no ano de 2020. E um desses aprendizados foi justamente que as escolas são ambientes seguros e saudáveis, tanto para alunos, quanto para trabalhadores e professores;

13) Justamente por esse aprendizado peço que o senhor reveja esse decreto e revogue o fechamento das escolas. Há muitos outros setores com risco muito maior de contágio que as escolas que continuam abertos, sendo um risco para o aumento dos casos de COVID-19.

Muito obrigado pelo que o senhor tem feito no combate à pandemia no nosso estado. Sabemos que as vacinas são fundamentais e, infelizmente, por questões que não são ligadas diretamente aos governos estaduais, ainda não conseguimos imunizar a população com celeridade.

Mas tenho fé e certeza de que venceremos essa guerra contra esse vírus.

Fortaleza, 18 de fevereiro de 2021

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