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É “nós ou nada”, Lula? Por Ricardo Alcântara

Ricardo Alcântara é escritor e publicitário. Filiado à Rede Sustentabilidade.

Em teleconferência com dirigentes do PT, Lula repreendeu indiretamente seu pupilo, Fernando Haddad, pela heresia de assinar um manifesto em defesa da Democracia e contra a ameaça fascista que o governo Bolsonaro representaria sem consultá-lo. Face aos motivos elencados por ele, pergunto: Lula passou 500 dias numa cela ou num freezer? Não parece compreender o que mudou desde então.

Lula defende que “Não adianta combater Bolsonaro e defender Paulo Guedes”. Mais equivocado, impossível. A luta pela democracia sempre contou com apoio amplo de setores liberais, a ver a tríplice aliança que venceu o nazi-fascismo. Uma vez criticado pelo acordo com Stálin, Churchill encerrou o papo: “Pois me aliarei ao demônio, então, e juntos derrotaremos Hitler”. Ora, a defesa dos parâmetros democráticos é conjuntural. Já o conflito conceitual entre as inclinações estatizantes da esquerda e a crença dos liberais no arbítrio das leis de mercado seguirá seu curso histórico.

Lula se queixou também de que os manifestos não denunciam as perdas de direitos dos trabalhadores desde o fim dos governos petistas. Nem deveriam: aprovar políticas antissociais, como fizeram parlamentares das bases de Temer e Bolsonaro, não constitui ilegalidade, passível de impeachment, ao contrário dos casos investigados pelo STF (Gabinete do ódio e interferência na Polícia Federal), em cuja veracidade os que os assinam creem.

Lula alegou ainda, para desautorizar o apoio do PT à frente ampla, que “aqueles manifestos contêm assinaturas de políticos que apoiaram o impeachment da Dilma”. Ora, quanta falta de grandeza: prefere Lula ver o país mergulhado em tempos sombrios do que fazer uma travessia ocasional ao lado de quem o traiu em fatos vencidos? Vivo fosse, Luís Carlos Prestes o lembraria: “Lula, para defender os trabalhadores, apoiei Getúlio, que entregou minha esposa ao nazismo para morrer numa câmara de gás”.

A frente ampla não deve mesmo exigir atestado de bons antecedentes eleitorais. Liberais são bem vindos, sim. Quem anulou seu voto, também. Bem vindos os que foram se esconder em Paris. E até os arrependidos do MBL – por que não? A luta pela Democracia se fortalece é celebrando, em sua prática, convivência tolerante por um objetivo comum.

A ideia que os move não pode ser a de devolver o poder ao PT ou mesmo evitar que isso ocorra, mais adiante, por desejo de uma maioria eleitoral. Não. É uma causa de amplitude maior do que o diâmetro do umbigo de Lula. Trata-se de preservar direitos. De manter garantias individuais, é o que se trata. Dos patamares de civilidade.

Se Lula se confessa “velho demais para ser uma maria vai com as outras”, como alude depreciativamente à frente ampla, que siga com os seus sem medo de ser feliz, caso ainda se imagine capaz de arrastar as multidões. Mas o que transparece é a visão de uma liderança em declínio, com dificuldades emocionais de fazê-lo com dignidade.

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