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Dr. Cabeto fez muito bem em dar um choque de realidade

Por Fábio Campos
fabiocampos@focus.jor.br

É preciso ver a fala do secretário de Saúde do Ceará durante live promovida pelo Sinduscon do Ceará como um necessário choque de realidade. Respeitado professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará, o Dr.Cabeto costuma se basear em dados científicos para formar suas convicções. Creiam: quando apontou a possibilidade de centenas de mortos por dia em Fortaleza, o médico estava apenas reproduzindo um dos cenários estabelecidos. Apenas um. Talvez nem seja o pior dos possíveis cenários.

Caso a quantidade de mortos cresça significativamente em Fortaleza, nada mais será do que a reprodução do que vem ocorrendo em diversas cidades e regiões do mundo. Ora, por qual motivo aqui seria diferente? O super-homem do esgoto resistente às doenças só existe em mentes perturbadas como a do presidente da República. A fragilidade do vírus debaixo de nosso calor é a outra aposta. Isso mesmo, uma aposta. Não passa disso.

Cabeto fez bem. Deu um choque de realidade. Não trabalha com apostas e só lida com a ciência e os fatos. Ficou óbvio na live que o secretário se sentiu pressionado pelos empresários que querem retomar seus canteiros de obras. É compreensível. Afinal, trata-se de um setor que vem, há anos, sofrendo o pão que o diabo amassou. Um setor que emprega muito direta e indiretamente. Porém, a realidade se impõe. E a realidade é que as experiências que desdenharam do isolamento social foram muito mal sucedidas.

O Dr. Cabeto é um profissional sofisticado e sério. É um estudioso não apenas das ciências médicas. Quem já teve a oportunidade de conversar com ele acostumou-se a ouvir suas avaliações sobre a panela de pressão de uma cidade que varreu para baixo do tapete as obras de saneamento básico em detrimento de obras inúteis já bem conhecidas. Quando isso se insere em um país rico, mas profundamente  desigual, a panela de pressão pode explodir.

Fez bem o Dr. Cabeto em chocar com a dureza dos números. Eles são uma projeção, claro. Porém, bem plausíveis, a não ser que a intervenção de algo inesperado se apresente. Um secretário de saúde não pode lidar com a expectativa do inesperado.

Seu choque de realidade é um alerta importantíssimo. Ouço, todos os dias e com imensa frequência, as bobagens que afrontam a ciência. A fala do secretário põe as coisas no lugar. Entendam: os EUA, a Roma das últimas sete décadas, foi pega de calças curtas. Lá se vão mais de 24 mil mortos até aqui. O que leva alguém a imaginar que as coisas seriam amenas na faixa da linha do Equador? Chutes. Apenas chutes.

Portanto, aos que acham que as coisas já podem ser relaxadas, aconselha-se a fixar-se na fala do secretário. Ela foi necessária, repito. Que martele na cabeça de cada um de nós.

 

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