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Destruição Criativa e Hollywood, por Igor Macedo de Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

Um dos mais importantes economistas do século XX foi o austríaco Joseph Alois Schumpeter, uma de suas mais importantes contribuições para a ciência econômica e para o mundo empresarial foi o conceito de destruição criativa. Ele também descreveu o processo de como ocorre a inovação no mundo empresarial, que acontece exclusivamente dentro de uma economia de mercado, no qual novos produtos são capazes de destruir empresas velhas e antigos modelos de negócios. Para Schumpeter, as inovações implementadas pelos empresários são a força motriz do crescimento econômico das sociedades, sustentando a longo prazo os investimentos e contribuindo para a redução do poder de monopólio dentro dos mercados, o que aumenta a eficiência econômica.
Dentro desse conceito o mundo passa hoje pela maior destruição criativa do entretenimento. Acostumados a entender o mundo dos filmes e da televisão baseado em retransmissoras e estúdios, onde a locação de filmes ou canais exclusivos eram os grandes veículos capazes de aumentar o faturamento do mundo do entretenimento, algo que hoje já aparenta ser algo antigo.
A mídia física, o Compact Disk e o Blu Ray, entrou no rol de itens voltados para os colecionadores, um nicho pequeno e específico. Empresas como a Blockbuster Video ou a HMV deixaram de ser ícones globais para se tornarem empresas do passado. O desenvolvimento da internet e a alta capacidade de transmissão de dados gerou a possibilidade de oferecer serviços de música e vídeos online ao redor do planeta para assinantes que pagam mensalidades para ver e ouvir seus artistas favoritos em um universo que o limite é o licenciamento, nada mais.
Netflix e Spotfy foram os grandes pioneiros globais e hoje detêm uma parcela considerável do marketshare global, entretanto ao contrário do antigo sistema de entretenimento, as barreiras a entrada neste setor são bem menores e as gigantes como Disney, Apple e Amazon já lançaram seus sistemas com o PrimeVideo, Apple TV+ e Disney+.
Além de uma mudança considerável na maneira de entregar vídeos e músicas aos seus clientes, a outra revolução que esse setor trouxe para a economia mundial é não “vender um filme” ou “vender uma música”, mas “locar mídias”. Ao invés de ter uma receita a cada produto que o consumidor procura ver ou assistir, a nova lógica do sistema é possuir o máximo possível de receitas recorrentes mensais, independente da quantidade de vídeos ou filmes que o cliente queira assistir. Assim cria-se uma nova disputa, não por “ticket vendido”, mas por “assinantes da plataforma”.
“O processo de Destruição Criativa”, escreveu Schumpeter em letras maiúsculas, “é o fato essencial do capitalismo”, e tem como seu protagonista central o empresário inovador, que altera produtos, serviços e maneiras de acumular riquezas.
Não é possível generalizar essa mudança para todos os setores do entretenimento. O sistema de livros digitais e assinaturas neste setor ainda não se consolidou como mainstream e o livro impresso continua com mais de 75% do marketshare mundial, mostrando um avanço modesto da digitalização neste setor.
Poucas pessoas procuram em Hollywood aulas de economia e um entendimento sobre a evolução do sistema capitalista. Mas o ápice do entretenimento apresentou novas emoções ao mercados de capitais com essa revolução dos sistemas de streaming. Fundos de investimentos, bolsas de valores e debêntures privados financiaram a reinvenção do setor. As estrelas desse momento têm sido empresários como Reed Hastings, chefe da Netflix, que ousaram desafiar uma indústria sólida e centenária, apesar de saber que haverá em breve um troco desses gigantes. Esse novo modelo também destruiu fronteiras físicas, já que o talento agora vem de todo o mundo e hoje a maioria dos assinantes de serviços de streaming vive fora dos Estados Unidos da América.
Essa revolução também é uma novidade para os governos, que procuram entender como tributar e regular esses novos setores digitais em uma economia cada vez mais globalizada, onde um pequeno escritório em Cingapura pode prover serviços para nações ao redor do planeta sem um único funcionário no local.

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