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Cumbuco: meca dos esportes náuticos e do lazer tomada pelo lixo

Nem as placas de “proibido jogar  lixo”, afixadas em alguns pontos, são respeitadas. Foto: Átila Varela

Átila Varela
atila@focus.jor.br
A promoção dos destinos turísticos do Ceará está em alta por conta não somente do período de férias, mas também pelo sucesso do hub da Air France-KLM/Gol, além de outros diversos voos internacionais que ligam a Europa, os Estados Unidos e países da América do Sul a Fortaleza.
Um dos principais atrativos do Ceará é o extenso litoral, com muito sol, ventos e ondas que transformam o Estado em uma meca dos praticantes de esportes náuticos, como o kitesurf.
Localizada a menos de 30 quilômetros de Fortaleza, a pouco mais de meia hora do aeroporto, a Praia do Cumbuco, em Caucaia, é um dos locais mais propícios à pratica no Ceará. Contudo, os bons ventos e a excelente infraestrutura de serviços turísticos contrastam com o descaso na oferta de serviços públicos os mais básicos. É o caso da coleta de lixo.
A olhos nus, o lixo se acumula nas margens da CE-90, a menos de 600 metros da praia. Restos de comida, garrafas PET, embalagens de leite, cascas de coco, pneus e até sofás são entulhados. Uma paisagem que deveria ser pontilhada pelas pipas do “kit” é tomada pelos voos de urubus em busca de carniça. Em quase toda esquina, há um monturo. Nem as placas de “proibido colocar lixo”, afixadas em alguns pontos, são respeitadas.
Operador aguarda um mecânico para o conserto do veículo. O lixo segue acumulado. Foto: Átila Varela

“Mas isso aí quem joga são os próprios moradores”, disse um operador de uma retroescavadeira que esperava pacientemente, sob o sol de 33 graus, o conserto do veículo. Enquanto o mecânico não chegava, ele contou que a questão do lixo se acumula mais por conta das férias. “Quando vem gente de fora, aí aumenta o nosso trabalho”, explica o trabalhador.
Ao todo, ele “enche” seis caminhões-caçamba por dia. “Era para eu ter terminado já, não fosse o problema na máquina. Quando chega perto de 14 horas, consigo bater a meta. Encho seis caçambas e vou para casa”, adianta. Pelo que se percebe na região, o trabalho não é profissional e está longe de resolver o problema.
Por qual motivo o lixo se acumula nas margens da CE-090? Além de uma forma de coleta que se mostra inadequada, “os tratores não podem entrar nas ruas que ficam próximas à praia. Por isso os moradores colocam os resíduos nas margens”. O comércio já começa a sentir os prejuízos da prática.
“Pagar por fora”
As barracas de praia e as pousadas, geralmente produtoras de lixo em maior escala, contabilizam os problemas ocasionados pela inconstância da coleta. “Se a gente não ‘pagar por fora’, nosso lixo não é recolhido. Uma coisa é o lixo doméstico, outra é o lixo do restaurante”, afirma o empresário Alex Coelho, proprietário de um restaurante e uma pousada no Cumbuco.
“Pagamos R$ 300 por mês. Sabemos que os caminhões são agregados à Prefeitura. Aí, eles (proprietários dos caminhões) passam e perguntam se não queremos retirar esses entulhos. Ou seja: um trabalho que era para ser realizado pelo Município precisa ser pago do nosso bolso”, critica o empresário.
Quanto ao lixo, a insatisfação é geral com a administração local. “Não estamos falando da Europa ou dos Estados Unidos. Em Icaraizinho de Amontada ou na praia do Pecém (São Gonçalo do Amarante), as praias são bem mais cuidadas”, dispara.
No caso da pousada, o reflexo se dá na avaliação dos clientes. “Recebo pessoas que avaliam nas plataformas de reserva de hotéis o nosso lugar. Não têm nada contra minha pousada. Mas, nos comentários, falam que o lixo é o maior problema da região. Assim, acabam concedendo uma nota mais baixa para o meu estabelecimento. Se era um 9, a nota cai pra 7 por causa do lixo. É só ler os comentários”, lembra.
Nem a praia escapa
As areias da Praia do Cumbuco e outras vizinhas também não estão imunes ao descaso na oferta do serviço. Quem coloca os pés nas areias finas da praia do Cumbuco precisa ter cuidado para não pisar em uma garrafa PET, fragmento de tijolo ou caco de telha – esses dois últimos “resíduos” da construção civil.
Um turista reclama ainda do acúmulo de sacos plásticos, canudinhos e outros resíduos de consumo que ficam ao sabor dos ventos. É usual que alcancem as águas do mar levando ao risco o ecossistema marítimo da região. “O turista não tolera essa situação”, aponta o proprietário de uma pousada.
“O lixo aumentou de uns tempos para cá. Não tinha essa quantidade toda”, destaca o instrutor de kitesurf José Eduardo Alves. Mesmo com a faixa de areia repleta de praticantes e as barracas de praia cheias de visitantes em um dia de semana, ele lamenta a situação encontrada na região.
Não ande descalço por aqui. É possível que você pise em um caco de telha ou fragmento de tijolo. Foto: Átila Varela

“Os turistas acabam juntando o lixo que se acumula na areia. Certa vez vi uma moça da Inglaterra com uma sacola de náilon coletando o lixo da praia. Os estrangeiros não reclamam para os brasileiros, mas falam uns com os outros sobre isso. É vergonhoso para nós”, revela o profissional.

Na extensão da praia, especialmente no point do kitesurf, é inexistente a presença de lixeiras ou coletores. Para completar, também há uma série de galerias que despejam água contaminada com resíduos diretamente no mar.
“Você vê que o local em que as pessoas tomam banho e a turma do kite se diverte fica ao lado de um esgoto. Não é só esse que estamos vendo. Se você andar mais dois quilômetros, encontra, no mínimo, mais três”, afirma preocupado o instrutor de kitesurf.
O Focus entrou em contato com a Prefeitura de Caucaia. No entanto, até o fechamento da edição, as ligações não foram atendidas.
Abaixo, outras imagens do descaso: 

 

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