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Crises econômicas e capitalismo: uma convivência sistêmica

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

Desde o início do capitalismo moderno, após a Revolução Industrial e sua expansão da Europa para a América, a Ásia e a Oceania, o sistema econômico de produção passou por altos e baixos. Em momentos de bonança a visualização geral da sociedade é pouco comentada, entretanto em momentos de crises procuramos explicar o que deu errado.
Nunca foi dito em nenhuma teoria econômica que o sistema capitalista era perfeito, que o movimento de crescimento seria ininterrupto, contudo, em comparação com todos os outros modelos de produção até então utilizados pela humanidade, esse se apresentou como o mais capaz de diminuir a pobreza, reduzir desigualdades e desenvolver as sociedades.
Após a primeira grande crise do Capitalismo a nível mundial, em 1929, grandes segmentos da sociedade nas democracias modernas passaram a exigir que os governos fornecessem proteção contra as crises econômicas e os choques acentuados associados a graves crises financeiras. Essa demanda estava centrada na necessidade de evitar que crises financeiras profundas impactassem na economia real, na empregabilidade e no crescimento da renda.
Em meados da década de 1970, a liberalização financeira foi combinada com novas formas de regulação dos mercados financeiros e de capitais. Um movimento em direção a políticas econômicas e financeiras mais voltadas para o mercado, com menos intervenção do Estado poderia restaurar um crescimento mais rápido. Certamente essa política conhecida como Neoliberal produziu um aumento contínuo no valor dos ativos imobiliários e financeiros em muitos países, bem como uma maior estabilidade e crescimento para as nações já desenvolvidas, mas principalmente para nações em desenvolvimento como o Brasil, a China e a Índia.
A complexidade de um sistema cada vez mais interligado também promoveu uma maior fragilidade sistêmica, o que aumentou o interesse de vários atores em favor da ação dos governos para evitar falhas em qualquer ponto do sistema capitalista. A existência de empresas “too big to fail” se tornaram um risco para nações inteiras. Alguns bancos solventes, por exemplo, poderiam não estar seguros se falhas em outros bancos levassem à depreciação generalizada do preço dos ativos, gerando colapsos em mercados de financiamento, como ocorreu em setembro de 2008.
Governos e entidades internacionais com interesses em grandes bancos e empresas “too big to fail” demonstraram a necessidade dos resgates públicos ou “bailouts”. A quebra de instituições globais como a seguradora AIG ou a General Motors seria um grande choque nas instituições financeiras de tal forma que impactaria os lares da classe média, as economias de milhões de trabalhadores em fundos de investimento, e o patrimônio imobiliário alavancado pelos financiamentos hipotecários.
O abalo que as crises do capitalismo causam são surpreendentes, em sua maioria são inesperados e suas causas não são iguais ao longo da história. O efeito mais danoso das crises do capitalismo é que elas provocam o aumento da diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres, subvertendo a tendência natural do capitalismo no período de crescimento econômico, que é de diminuição da desigualdade social.
Essa combinação de crises, financeirização e resgates públicos podem representar desafios políticos particulares aos partidos de esquerda e de direita, deteriorando as suas bases de apoio e ao mesmo tempo criando uma crise de confiança na democracia representativa, que é a base do capitalismo liberal.
Tal como a política, que existe em um movimento cíclico entre governos de esquerda e de direita, o sistema capitalista possui um movimento cíclico de crescimento e depressão, os quais são até hoje equacionados com políticas liberalizantes e keynesianas.  Atualmente é preciso uma maior capacidade dos agentes em suavizar os efeitos das crises econômicas sem colocar em cheque suas políticas fiscais, de modo que o Estado possa impedir que retrocessos sociais coloquem em dúvida a efetividade do capitalismo liberal como sistema de inclusão e melhora da qualidade de vida da população.

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