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Catarina Rochamonte projeta 2019: liberal conservadorismo contra a "ferrugem" marxista

Catarina Rochamonte é graduada em Filosofia pela UECE, Mestre em Filosofia pela UFRN e Doutora em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Perspectivas políticas 2019: a posse de Jair Bolsonaro e seus ministros

Por Catarina Rochamonte
Fazer retrospectiva é mais seguro que avançar nas perspectivas. Karl Marx, por exemplo, fez interessantes retrospectivas históricas; mas, ao prever o futuro, arrimado nas leis do materialismo histórico e dialético, deu com os burros n’água com o seu “socialismo científico”. Já antes, Imannuel Kant, mais cauteloso, entendera ser possível apenas discernir tendências, vendo cada grande acontecimento como sinal premonitório. Esse pensamento adota a ideia iluminista de progresso como possibilidade e não como necessidade. Assim cogitando, o filósofo alemão fez o que ele mesmo chamou de “história profética” e a fez com otimismo, vendo na Revolução Francesa, o Signum Prognosticum pelo qual se poderia decifrar que a humanidade caminharia para o melhor.
Já o filósofo francês, Henri Bergson, constata (ponderando que isso será mais ou menos verdadeiro segundo o caso) que o progresso se faz por uma oscilação entre dois contrários, havendo um ganho quando a balança retorna ao seu ponto de partida. Não há, para Bergson, leis que regem as sociedades humanas se por elas entendermos algum determinismo do tipo histórico, mas há fatos que apresentam uma regularidade suficiente para que possa configurar algo próximo ao que chamamos de lei.
Adaptando tais chaves de leitura para o nosso tema poderíamos, com um pouco de otimismo, imaginar que a tão propalada polarização entre os extremos políticos da esquerda e da direita tenha sido necessária para que, em breve, encontremos uma configuração de forças mais equilibrada em uma sociedade que evoluiu porque colheu e aproveitou o que pôde desses dois extremos.
No fim do ano passado, neste mesmo espaço, em nosso artigo anterior intitulado A onda conservadora, cumprimos o ritual de escrever uma retrospectiva. Agora avançamos nas perspectivas, limitando-nos ao Brasil e ao futuro muito próximo e decifrando apenas pequenos sinais premonitórios de um evento rotineiro nas democracias: a ascensão de um novo governo.
A posse do Presidente Bolsonaro – cujos eleitores mais entusiasmados chamam de “Mito” – foi uma festa bonita, com muita gente, muita animação e muita esperança; tudo transcorrendo em paz. Bom sinal. Trump não veio, mas mandou o secretário. Trump não é o diabo, mas tem quem diga que ele é. O importante é que o secretário – no caso, Mike Pompeo, Secretário de Estado – deixou claro o forte estreitamento das relações do Brasil com os Estados Unidos, a nação mais próspera e poderosa do mundo; e isto sinaliza para muitas coisas boas, inclusive novos e ricos investimentos no Brasil, gerando emprego e renda.
Benjamin Netanyahu foi o primeiro a chegar e até teve tempo de jogar bola nas areias de Copacabana, tendo sido aclamado em Brasília pelos brasileiros na sua chegada à cerimônia de posse do presidente eleito. O entusiasmo do primeiro-ministro de Israel  com a nova relação da sua nação com o Brasil pôde ser percebido pelo tom de suas entrevistas e pelas inúmeras postagens que fez nas suas redes sociais sobre a visita ao nosso país. Esse forte interesse é muito bem-vindo, pois Israel está na vanguarda mundial em várias tecnologias que podem servir ao desenvolvimento brasileiro, especialmente no Nordeste. O próprio Netanyahu fez o prognóstico dessa histórica aproximação: “Essa combinação pode trazer coisas maravilhosas para o povo brasileiro: água, agricultura, saúde, transporte, cyber-segurança. Você pode escolher”.
Os sinais estratégicos dos dois discursos de posse de Bolsonaro já haviam sido emitidos durante a campanha: liberalismo na economia e conservadorismo nos costumes. Bom sinal para quem é liberal-conservador; ruim para a esquerda que ainda teve de ouvir que o Brasil estava “se libertando do socialismo”. A mídia progressista – ainda antes de concluída a posse – correu para dizer que no Brasil nunca houve socialismo, quando sabemos que não apenas a administração pública, mas também quase toda a vida política e cultural brasileira já estava corroída pela ferrugem do pensamento marxista em seus diversos matizes. A referida fala tratou apenas de sinalizar no sentido de uma limpeza dessa ferrugem pelos processos normais do embate democrático e da escolha de nomes não vinculados a essa ideologia para os cargos mais importantes do governo. Já a sinalização liberal encontrou sua maior ênfase em uma frase lapidar do ministro Paulo Guedes, o titular da Economia: “A maior engrenagem descoberta pela humanidade para garantir a inclusão social são as economias de mercado”.
Destaque-se ainda, no segundo discurso de Bolsonaro, uma frase reveladora de disposição guerreira e democrática na resistência à ameaça do totalitarismo de esquerda: “Essa é nossa bandeira, que jamais será vermelha. Só será vermelha se precisar do nosso sangue para mantê-la verde e amarela”. Os adversários do presidente eleito o acusam de ser a real ameaça de totalitarismo de direita, mas não há sinais disso. Pelo contrário, o ritual de posse do Presidente foi uma consagração da legitimidade democrática conferida pelo voto soberano do povo.
O sinal mais belo e comovente veio de surpresa, no discurso em libras feito pela primeira-dama: foi um claro sinal de inclusão que emocionou as milhares de pessoas presentes e os milhões que assistiam a posse em todo o Brasil. A assessora da primeira- dama, que traduzia em fala comum a linguagem de libras, embargou a voz, quase em lágrimas. O discurso em libras de Michelle Bolsonaro foi um momento alto não só da posse presidencial de 2019, mas da história das solenidades republicanas.
No dia seguinte, outra mulher, a titular do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, enviou novo sinal de inclusão em um discurso de posse tocante e altivo. Além de defender vigorosamente as minorias e afirmar enfaticamente que todas as configurações familiares seriam respeitadas, Damares Alves mostrou também que não se acovardou com o assédio moral que sofreu por parte dos que se opõem às suas pautas detratando-a e reafirmou orgulhosamente sua religiosidade: “O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”.
A sanha persecutória de analistas, artistas e intelectuais parece, no entanto, não ter fim e a ministra – pouco tempo depois de ter sido humilhada por declarar ter tido uma visão de Jesus em um pé de goiabeira – passou a ser alvejada por ter proferido a frase “menino veste azul e menina veste rosa”, o que é obviamente uma referência contra a “ideologia de gênero” e não uma frase a ser entendida em sentido literal. Mas a resistência da ministra da Mulher também é um sinal: sinaliza que as patrulhas progressistas e a camisa de força do politicamente correto, ainda que ativas, estão sendo desmascaradas e repelidas.
Pouco antes da posse foi a vez de o Chanceler Ernesto Araújo dar os seus próprios sinais de resistência contra a acerba campanha persecutória e desmoralizadora de que tem sido vítima, e o fez escrevendo o excelente artigo “Agora falamos”, publicado na revista norte-americana “The New Criterion”. Falamos de quê? De Deus, oras!
É bem verdade que esse artigo veio com uma retrospectiva que deixa o PT abaixo do rés do chão; mas o que enlouqueceu tanto a esquerda quanto alguns liberais foi mesmo o fato de Ernesto Araújo, que é católico praticante, insistir em falar o nome de Deus. Horrorizados, os analistas chegaram a contar quantas vezes nos artigos de Araújo aparece o nome de Deus.
Depois, ao assumir o Cargo de Chanceler em solenidade no Itamaraty, Araújo esbanjou brasilidade: “Independência ou Morte”, Tarcísio Meira e Pedro I; José de Alencar e Iracema, a oração da Ave Maria em tupi e o maluco beleza Raul Seixas. Os analistas, porém, apressaram-se em dizer que maluco mesmo seria o novo ministro. Mas não é. Nosso brilhante Chanceler apenas fala e age fora do figurino medíocre do progressismo politicamente correto.
O editorial do dia sete de Janeiro do Estadão, em texto intitulado “Obscurantismo”, não lhe poupou críticas severas e exageradas. Esse editorial, diga-se de passagem, foi reverberado pelo site escancaradamente esquerdista, Brasil 247. O tom de deboche e desrespeito tem aparecido tanto na mídia quanto nos nichos intelectuais nos quais circulamos (os meios liberais). O editorial em questão fala em sentimento de apreensão diante do “revanchismo” e do “fundamentalismo religioso”, além de criticar a “suposta erudição” de Ernesto Araújo. No nosso entendimento, porém, não se trata de uma “suposta” erudição, mas de uma nítida erudição, demonstrada, inclusive, de modo bem pouco pedante. O pedantismo se revela  muito mais nos severos e infatigáveis críticos do ministro.
A análise do versículo bíblico “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” – citado por Bolsonaro ao longo da campanha – foi particularmente interessante por referir os termos gregos correspondentes a três conceitos “cruciais para o pensamento humano” que ali aparecem: Verdade (Aletheia), Conhecimento (Gnosis) e Liberdade (Eleuthería).  De fato, os conceitos se desgastam ao longo dos séculos e não há nada de mais que o ministro tenha iniciado suas reflexões com o resgate do significado anterior e mais significativo dessas palavras.
Logo depois da análise dos termos gregos, Ernesto Araújo cita Renato Russo para dizer que não é a cautela ou a prudência que conhece a verdade: “é só o amor que conhece o que é verdade”. “A cautela, a prudência e o pragmatismo são bons instrumentos quando sabemos para onde ir”, disse o chanceler, “mas eles não nos ensinam para onde ir, não nos mostram o que somos, não nos explicam a nós mesmos.” E diz ainda que “só o amor explica o Brasil”, que “não estamos aqui para trabalhar para ordem global”, pois “aqui é o Brasil” e que não devemos ter medo de ser Brasil.
Um pouco mais adiante, o chanceler assevera que “quem ama luta, luta pelo que ama. Então nós admiramos aqueles que lutam pela sua pátria.” Entre as nações e povos admirados citados pelo ministro figuram Israel, Estados Unidos, os países latino- americanos que se libertaram do foro de São Paulo, os irmãos da África, a nova Itália, a Hungria, a Polônia e – o que aqui destacamos – “os que lutam contra a tirania na Venezuela.”
Para sorte dos nossos desesperados e miseráveis irmãos venezuelanos que padecem sob o jugo de uma tirania que prende, tortura e mata, o Chanceler não ficou apenas no seu erudito discurso e, antes mesmo de terminar a primeira semana do novo governo, tomou medidas concretas contra a ditadura que oprime nossos vizinhos. O Grupo de Lima, composto pelo Brasil e mais 12 países (Peru, Argentina, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá e Paraguai) declarou, por iniciativa do Brasil, que não reconhecerá a legitimidade de um novo mandato de Nicolás Maduro na Venezuela. A proposta levantada pelo Chanceler brasileiro venceu e convenceu amplamente, apenas o México se recusou a assinar a declaração.
O Partido dos Trabalhadores (PT), como não podia deixar de ser, mostrou mais uma vez incurável ranço totalitário e tendência inata de defender o que não presta lançando uma “nota de repúdio à posição de Bolsonaro em relação à Venezuela”. Esse documento é uma amostra fiel da manipulação linguística aliada à falta de ética própria da retórica petista e, de modo geral, da esquerda mais radicalizada. É a hipocrisia e o mau-caratismo atestado e assinado para quem quiser ver.
Ali lemos que o “governo autoritário brasileiro” visa a “desestabilizar o governo eleito daquele país e acirrar seu conflito interno.” Como num passe de mágicas, como se a palavra conseguisse criar um mundo paralelo invertendo a realidade, vemos atônitos um governo legítimo e democrático (Brasil) se tornar autoritário enquanto o verdadeiro regime autoritário (Venezuela) é descrito como uma democracia legítima. A palavra “golpe”, tão usada pela esquerda para se referir aqui ao processo legítimo e constitucional do impeachment da presidente Dilma – impeachment esse que prontamente deixaria de ser golpe se atingisse Temer ou se atingir agora Bolsonaro – é utilizada nessa mesma nota de repúdio para se referir não ao que Chávez e Maduro fizeram, mas para se referir à resistência do já tão sofrido povo venezuelano contra a destruição do seu país por psicopatas socialistas.
É assim, por esse tipo de inversão e distorção, por meio do uso abusivo e irresponsável da linguagem que os que lutamos contra as verdadeiras táticas fascistas da esquerda somos rotulados de fascistas e é assim que, infelizmente, muitas vezes eles nos conseguem calar: porque tememos os rótulos, porque tememos sermos acusados do que não somos, porque queremos ser bons não diante da nossa consciência e perante Deus, mas diante da nossa turma progressista, descolada, supostamente politizada e politicamente correta.
Mas se depender no atual ministro da Educação essa balbúrdia linguística não encontrará mais a mente dos jovens tão vulnerável à lobotomização provocada pelo totalitarismo psicopedagógico que hoje ainda domina nas nossas escolas e universidades. Ricardo Vélez Rodríguez é filósofo e teólogo. E é mais um dos ministros desse governo que acredita em Deus e fala o nome de Deus sem medo. No discurso de transmissão de cargo, Vélez Rodríguez voltou a sinalizar quanto à necessidade de livrar a educação brasileira do “entulho marxista”.
Não deveria causar estranheza que um teólogo refute o materialismo histórico e dialético, pois estranho mesmo é que existam teólogos marxistas. Mas, nas democracias, essa e outras esquisitices encontram guarida. Antes de ser indicado ministro, o experiente educador já havia feito vários diagnósticos da contaminação  ideológica na Educação brasileira, como nesta fala pronunciada numa aula Magna em uma Universidade do Paraná: “Nos últimos 30 anos, o setor gramsciano do PT tomou conta das escolas, das secretarias de educação, da mídia. Não é história de perseguição direitista. É fato. Eles foram eficientes nisso.” Não há dúvida que o novo ministro conhece muito bem a área em que vai atuar. Não é a toa que ele é outro alvo dos ataques dos analistas e intelectuais progressistas.
Muitos outros sinais alvissareiros podem ser lidos; não nos estendemos sobre a fala dos outros ministros, mas neles depositamos grande esperança, em especial no ministro da Justiça, Sérgio Moro e no ministro da Economia, Paulo Guedes. Nós estamos confiantes nos novos rumos do país e interpretamos positivamente os primeiros sinais emitidos pelo atual governo. Mas tudo indica também que, além dos desafios comuns a qualquer governo, Bolsonaro e sua equipe ministerial terão que enfrentar também o desafio de uma oposição sistemática, incansável, irresponsável e histérica.

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