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Capitão Wagner e o “Tasso de 86”, por Ricardo Alcântara

O jovem Tasso Jereissati na campanha para o Governo do Ceará em 1986.

Por Ricardo Alcântara*

O nome da oposição ao governo do estado, Capitão Wagner, soltou uma dessas declarações que candidatos fazem para repercutir, mas a “lacração” reverte contra ele mesmo porque contraria princípio básico do marketing eleitoral: haver Aderência, guardar mínima semelhança com a realidade para que resista ao filtro das contestações próprias à disputa.

Ele disse que, se eleito governador, pretende “ser como o Tasso de 86”. Recorro ao termo “pretende” porque é uma aspiração pretenciosa mesmo, se observados os roteiros que conduziram tanto o empresário quanto o policial à vida pública — díspares em qualquer aspecto que se queira examinar a comparação e é o que faremos neste artigo.

A primeira disparidade é que Tasso entrou na vida pública como um ativista na luta pela redemocratização do país, nas campanhas das Diretas Já e, a seguir, na eleição indireta de Tancredo Neves. Wagner, ao contrário, é aliado de um presidente, Jair Bolsonaro, que recebe ex-torturadores em audiência e com frequência faz largos elogios à ditadura militar.

A segunda diferença é que Tasso chegou ao poder numa campanha eleitoral em que trouxe a conhecimento público um programa de governo elaborado com a ampla participação da sociedade civil, o Movimento Pró-Mudanças, enquanto o Capitão Wagner ainda não apresentou ao distinto público uma única proposta que justifique sua candidatura.

A terceira diferença é que, para fazer valer seus compromissos de campanha, o então governador enfrentou duras resistências no legislativo estadual, enquanto o presidente apoiado pelo deputado Capitão rasgou todas as suas bandeiras de moralidade para obter maioria no congresso mediante aliança com o fisiologismo escancarado do Centrão.

A quarta diferença é que, ao encontrar os cofres do Estado em condições deficitárias, Tasso promoveu um severo ajuste fiscal e entregou o governo ao seu sucessor com suas contas em dia, ao contrário do presidente apoiado por Wagner, que está semeando uma crise fiscal para distribuir o que não tem e obter votos para sua improvável reeleição.

A quinta diferença: a atenção dada pelo tucano aos mais pobres. A mortalidade infantil, por exemplo, foi reduzida de 120 mortes por mil nascidos para algo hoje em torno de pouco mais de uma dezena, enquanto o presidente que o deputado apoia boicotou e combateu a vacinação infantil contra a Covid — um crime de lesa humanidade.

Poderia citar tantas outras porque o “Tasso de 86” é o modelo oposto a tudo que representa o governo apoiado pelo Capitão Wagner que, recentemente, confessou, em palanque público, sua “emoção por estar na presença de um grande estadista” — referência a Bolsonaro, que declarou sua disposição de retribuir o mimo com seu apoio eleitoral.

Apesar de seus erros e alguns desvios, já suficientemente debatidos no curso do tempo, o legado administrativo do agora senador Tasso Jereissati merece maior reverência do que uma frase lacradora para repercutir entre os incautos frequentadores das redes sociais e apoiadores de quem lidera greves ocupando quartéis com o revólver na cintura.

A opinião do autor não reflete a opinião do Focus*

Ricardo Alcântara é publicitário e escritor.

Ricardo Alcântara é escritor e publicitário

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