Átila Varela
atila@focus.jor.br
Após informar o possível fechamento das unidades do Coco Bambu em Fortaleza, o sócio-fundador do estabelecimento, empresário Afrânio Barreira, acredita que as pessoas precisam aprender a “conviver” com a COVID-19. O vírus, segundo ele, vai permanecer, assim como é hoje o patógeno da gripe.
Em entrevista ao Focus, ele critica o decreto que reduziu o horário de funcionamento de restaurantes no Ceará, fala sobre as perdas durante a pandemia e teme pelo fechamento das casas na Capital cearense.
Focus – A Abrasel Ceará diz que o Governo não conversou com o setor para a formulação do novo decreto que está em vigor. Não seria o caso de tentar negociar com o Poder Público?
Afrânio Barreira – Não é o caso de negociação, mas de conscientização. Você estabelece uma série de regras de biossegurança, com garçons usando faceshield, máscaras e reduz a capacidade de um restaurante de 100 para 40 lugares. Reforça as medidas para tornar o ambiente seguro. Depois, coloca a fiscalização que é muito bem-vinda. Mas depois de tudo isso, com o ambiente seguro e controlado, resolve fechar? Qual o sentido?
Focus – Alguns especialistas citam que o lockdown no Ceará está se desenhando. O que o senhor acredita?
Afrânio – As UTIs não podem ser o medidor para fechar o comércio e os demais estabelecimentos. O lockdown é um erro. Aquele povo que depende do salário para viver vai para casa sem renda e sem assistência médica. Vai morrer gente nas residências, pessoas mais carentes
Focus – O Governo tem divulgado uma série de pesquisas com base em estudos científicos e reforça a importância de manter o isolamento social e das restrições para contar o avanço da COVID-19.
Afrânio – Se é assim, por que não mostram a pesquisa de que se fechar o restaurante às 20 horas vai evitar o contágio da COVID-19? Isso eles não mostram. Se você reduz o horário, você acaba aglomerando mais. Se dilata, desaglomera. Você acredita que os mais jovens vão querer ficar em casa, em um sábado, depois das 15 horas? Não vão.
Focus – O secretário Maia Júnior, da Sedet, falou que apenas 5% da economia cearense está sendo impactada pelo decreto que limitou o horário de funcionamento dos estabelecimentos.
Afrânio – Esses 5% representam milharem de famílias. O que eu vou dizer para os meus funcionários? Que eles não são representativos? Essa foi a leitura que eu fiz. Falta, na verdade, uma boa gestão para enfrentar o problema. Matar alguém de fome não vai salvar uma pessoa que está na UTI.
Focus – O Coco Bambu, em comunicado, falou do fechando das unidades em Fortaleza. Existe alguma previsão de encerramento das atividades?
Afrânio – Em 2020, no comparativo com 2019, tivemos uma queda de 20% em venda. Saímos relativamente bem nesse quadro. Agora, nos dois primeiros meses de 2021, comparando o Brasil inteiro, nossa retração foi de 10% com relação a 2020.
Não temos nenhuma dívida. Estamos honrando todos os nossos compromissos. Cada unidade precisa do seu faturamento. Temos 46 restaurantes no País. Nesse caso, você não pode cobrir o prejuízo da outra.
Agora, com o decreto em Fortaleza, perdemos 50% do nosso faturamento na semana e 80% do faturamento nos fins de semana. Isso nos empurra para o precipício. Se continuar, teremos de encerrar as atividades. Pode ser daqui a seis meses, um ou dois anos. Depende do caixa de cada loja.
Na nota que escrevemos, coloquei o sentimento e a realidade de toda classe de restaurantes.
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