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A tempestade vem aí. Por Igor Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

Um dos ‘papéis’ do Presidente da República, ou de um primeiro-ministro, é convencer a população de que dias melhores virão, seja por motivos políticos eleitorais ou pela moral nacional. Não obstante a isso, obtemos tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e na Europa informações de que as economias mundiais estão se recuperando, principalmente de acordo com os gráficos e os indicadores econômicos e financeiros.

Entretanto, a situação real não é bem assim. A Europa está novamente iniciando o fechamento de suas principais cidades, e aqui no Brasil os sinais são confusos. A economia brasileira está mostrando sinais de retomada econômica por causa de dois principais elementos: o primeiro é a manutenção do auxílio emergencial de R$ 300 reais, que atualmente é recebido por 60 milhões de brasileiros, e o segundo é o programa de manutenção do emprego em que as empresas e o Governo dividem os custos dos trabalhadores para não gerar uma demissão em massa.

Acredita-se que sem esses programas o nosso PIB em 2020 cairia mais de 9%, e o país teria um nível de desemprego na casa dos 25%; atualmente estamos em 14%, o que já é um percentual muito alto. A questão é: já estamos em outubro, e o orçamento extraordinário que comporta essas dívidas deve acabar em 1 mês. E depois? O que faremos?

Em termos práticos, estamos acompanhando um aumento nos preços, e vários indicadores financeiros mostram que entramos em recuperação, mas na minha visão isso está errado, pois as economias regionais estão “anabolizadas” por recursos federais que já consumiram 800 bilhões de reais em novas dívidas este ano. Importante ressaltar que toda a dívida do setor público federal está por volta de 4,9 trilhões de reais.

Nas últimas duas semanas, o Federal Reserve (Banco Central Americano) e o Banco Central Europeu já alertaram sobre o fato de que as duas maiores economias do planeta irão precisar de novos estímulos ainda para este ano e para o ano que vem, a fim de serem evitadas novas ‘quedas’ na economia e principalmente no nível de emprego. A situação por aqui será igualmente relacionada. Os grandes desafios serão entender que esses estímulos devem continuar em 2021 e como financiar isso sem que investidores entendam como um retorno da irresponsabilidade fiscal.

De acordo com a economista-chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart,  na última sexta-feira ela alertou  para a possibilidade de o mundo enfrentar uma crise financeira nos próximos anos, após a grande devastação econômica causada pela pandemia da Covid-19. “Isso não começou como uma crise financeira, mas está se transformando em uma importante crise econômica, com consequências negativas muito sérias”.

Neste contexto, teremos dois caminhos: o primeiro mais fácil e populista é encontrar soluções mágicas e fáceis como, por exemplo, não pagar precatórios ou usar reservar internacionais. Nesse caminho, iremos encontrar a stagninflação, ou seja, estaremos estagnados economicamente e ao mesmo tempo teremos a volta da inflação, um momento certamente terrível, principalmente para os mais pobres.

O caminho mais tortuoso é o mais adequado, precisaremos cortar programas que não têm resultado, realizar as reformas administrativas, tributárias e as do pacto federativo. Por mais difícil que isso possa parecer, todos os problemas que colocávamos debaixo do tapete, por serem em tese “complicados” para terem um consenso no congresso, deverão ser adereçados mais rápido devido à Covid-19.  Em 2021, já com uma vacina eficaz, a pandemia vai ficar para trás, e as consequências econômicas serão o grande desafio.

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