Pesquisar
Pesquisar
Close this search box.

A história do colapso comunista e a economia de mercado, por Pedro Sisnando Leite

Pedro Sisnando Leite é economista com pós-graduação em desenvolvimento econômico e planejamento regional em Israel. Membro do Instituto do Ceará e da Academia de Ciências Sociais do Ceará. É professor titular (aposentado) do programa de mestrado (CAEN) da UFC, onde foi também Pró-Reitor de Planejamento. No Banco do Nordeste, ocupou o cargo de economista e Chefe da Divisão de Estudos Agrícolas do Escritório Técnico de Estudos Econômicos. No período de 1995-2002, exerceu a função de Secretário de Estado de Desenvolvimento Rural do Ceará. Publicou cerca de 40 livros em sua área de especialização e escreveu muitos artigos para jornais e revistas.

Há trinta anos, em nove de novembro de 1989, os alemães orientais do lado comunista da Alemanha derrubaram o Muro de Berlim, enterrando a experiência de 40 anos de totalitarismo socialista. A construção dessa barreira entre os dois lados da Alemanha era para evitar o colapso do país por falta de mão de obra. O regime comunista precisou prender os seus cidadãos construindo um muro para evitar a fuga dos berlinenses para o lado capitalista (Frederick Taylor, autor do livro O Muro de Berlim). A alegação dos orientais era para evitar a invasão dos malefícios do capitalismo explorador.
Esse acontecimento representou o início do fim da história para o comunismo. Um regime que ceifou milhões de vidas em vários países e barrou o progresso tecnológico e espiritual de quem estava sob o seu domínio. A vasta literatura existente relata em pormenores toda a epopeia desse processo histórico. Nos anos seguintes a 1989, o império soviético esfacelou-se por completo sob os olhos tolerantes do líder soviético Mikhail Gorbachev. É oportuno relembrar que Gorbachev assumiu o poder na URSS em 1985, quando a economia soviética dava sinais de estagnação e desastre na agricultura e na indústria, marcadas por ineficiências marcantes. Para reverter esse processo de deterioração que ameaçava o regime, logo que superaram os conflitos internos da burocracia, ele adotou duas iniciativas marcantes na história da comunidade socialista. No campo da política, adotou a “glasnost” (transparência), que abalou os alicerces do sistema fechado. Na economia, fez uma reviravolta denominada de “perestroika” ou reestruturação. Essas orientações marcaram a marcha sem retorno para o capitalismo, que se estenderam como fogo para todos os países membros da então união socialista.
Nas comemorações a que estou me referindo (09/11/2014), Gorbachev estava junto com a Chanceler alemã Ângela Merkel e o ex-presidente polonês Lech Walesa diante de uma multidão de 100 mil pessoas comemorando esse acontecimento que mudara os destinos da humanidade. No seu pronunciamento para todo o mundo, Merkel afirmou a viva voz para as TVs e as redes sociais: “A queda do Muro de Berlim foi uma vitória da liberdade e é uma mensagem de fé para as gerações de hoje, e do futuro, de que é possível e derrubar os Muros das ditaduras, da violência e das ideologias”.
Foi relembrando esses fatos emocionantes que resolvi fazer uma reflexão e escrever esta Crônica para partilhar com os meus leitores e ex-alunos de desenvolvimento econômico sobre os rumos que a América Latina está se encaminhando nos últimos anos tendo como miragem esse paraíso fracassado. De minha parte não sou filiado a nenhuma corrente política, mas tenho buscado durante todo a minha vida acadêmica a busca pelo conhecimento científico em favor do bem comum e dos princípios cristãos de minha formação doméstica.
A Histórica do Fracasso Comunista
O historiador Michael Meyer faz uma narração realista desses acontecimentos no seu livro “O Ano que Mudou o Mundo”. Dentre muitas razões, Meyer detalha que a Alemanha desde a partilha ocorrida com os países ocidentais aliados, após a Segunda Guerra Mundial, nunca conseguiu realizar a marcha prometida para o seu desenvolvimento econômico. Ou construir uma nova sociedade próspera e feliz para o seu povo.
O que se viu ao longo dos anos de espera pelas mudanças prometidas foi uma indústria de baixa produtividade, pois as fábricas eram obsoletas com equipamentos da década de 30. Faltava matéria-prima para alimentar o parque industrial, encarecendo os custos de produção.
A escassez de alimentos era um tormento para a população e para a burocracia desorientada e corrupta que desenvolveu uma mercado negro vergonhoso. Tornou-se motivo de piadas as longas filas para compra de cotas irrisórias para atender a todas a necessidades. Eu mesmo constatei pessoalmente esses fatos, quando estive nesse país com a minha esposa pela primeira, vez em 1985. Foram tantos os constrangimentos que passamos durante uma visita controlada, com apenas alguns dólares para aquisição de refrigerante (coca cola péssima). Depois dessa experiência minha esposa propôs-se a nunca mais visitar um país comunista.
De fato, várias vezes tive oportunidade de viajar parta a União Soviética, mas ela recusou-se determinadamente a não ir, frustrando os meus desejos como estudioso das experiências internacionais de desenvolvimento econômico. Mesmo assim, dez anos depois voltei com minha esposa Mirna (economista) para visitar a era pós-comunista da Alemanha Oriental, Tchelovaquia, Polônia, Hungria e Iugoslávia para obter material para escrever um ensaio da fase pós-comunista desses países.
O historiador Hano Hochmuth relata que o estado policial comunista de Berlim Oriental era constituído de 90 mil funcionários e 180 mil informantes que vasculhavam a vida de toda a população. A militarização começava no jardim de infância e a doutrinação ideológica em todos os níveis escolares. Não havia liberdade de imprensa ou de manifestações de qualquer natureza que contrastasse com o pensamento estatal. A lista de restrições quanto a manifestações de opiniões, crenças e religião eram inacreditáveis. É difícil acreditar que alguns segmentos da população brasileira desejem adotar esse modelo de sociedade para o nosso País. O que é ainda mais inquietante é quando tomamos conhecimento do que tem acontecido ao longo da história desde que essa filosofia de organização social passou a ser praticado em várias partes da terra.
Os mitos e utopias professados pela ideologia comunista foi mantido ocultos por barreiras de concreto, ou como se notabilizou designar de “cortina de ferro”, nos países em que foi imposto ou adotado. Muitos historiadores consideram que esse fenômeno oriundo da filosofia marxista-leninista, representou até agora uma tragédia política e social. Acredito que o socialismo-comunismo será lembrado pelas gerações vindouras como a mais enganadora experiência ideológica e intelectual do século XX. Especialmente pelo seu sistema econômico baseado no dogma de luta de classes e materialismo histórico. Nasceu do idealismo filosófico que rejeitava a injustiça do capitalismo e da revolução industrial inglesa do século XVIII. Buscava organizar uma sociedade melhor e igualitária gerida pelos trabalhadores.
A ideia era uma utopia sobre um regime econômico e social “democrático”, mas que na prática produziu a opressão em massa, em todos o lugares onde foi adotado. Como exemplos desse modelo ainda podem ser observados na agonizante Cuba, acudida recentemente pelos Estados Unidos, como fora durante toda a guerra fria pela URSS, e a misteriosa Coreia do Norte, sobre a qual pouco se sabe. Outros poucos casos que se dizem comunistas-marxistas, são meras ditaduras disfarçadas.
Em resumo, o socialismo-comunismo, dito científico, implantado a partir da revolução marxista-leninista de 1917, na Rússia, queria impor uma ideologia comum pela supressão da liberdade e estatização ou coletivização de todo o sistema produtivo. Porém, o desenvolvimento econômico socialista ficou muito aquém das suas expectativas e manteve os povos num estado de consumo muito limitado e dependente dos favores do estado totalitário.
Na realidade, a fé no poder da razão para construir uma sociedade sem classes e perfeita mobilizou as emoções poderosas de ódio e de manipulação para cometer os piores crimes da humanidade. Por meio de uma ditadura cruel e de milhões de assassinatos sem julgamento. Mesmo assim, na década de 1980, um terço da população do mundo vivia sob a égide desse sistema. Com o grande fracasso desse modelo ideológico, em 1989, começou a surgir um novo fenômeno pós-comunismo ou neocomunismo, com nova roupagem de capitalismo de estado.
A esquerda comunista Italiana, de Amadeo Bordiga e outros dogmáticos , passaram a adotar esta tese, em substituição a tática da luta de classes marxista. Mas o modelo de socialismo-comunismo atualmente em voga nas esquerdas latino-americanas é o do comunista italiano Antônio Gramsci, que condenou terminantemente a estratégia da luta de classes. Agora o estratagema é “ paz e amor”, tudo feito às claras “democraticamente”. Mantendo os poderes constitucionais, mas todos eles amarrados por aparelhamento administrativo. É uma espécie de “Nomenclatura” poderosa e corrupta, como era na União Soviética formada de altos funcionários do Partido Comunista e “trabalhadores” ocupando cargos técnicos, administrativos e artísticos disseminados em todos os órgãos governamentais.
Como o leitor pode deduzir, é o que está sendo implantado no Brasil, especialmente através do sistema de terceirizados. Na economia, como já referido, o modelo é de “capitalismo de Estado”, que são forças produtivas estatais simuladas, opondo-se a economia de mercado, conforme os princípios do economista marxista britânico John Maynard Keynes, falecido em 1946.
A Era Pós-Comunista
O laureado economista Mancur Olson da Universidade de Maryland (USA) escreveu uma obra sobre a as causas dos êxitos e dos fracassos dos países no seus processos de desenvolvimento: “ The Rise and Decline of Nations” [A elevação e declínio das Nações]. Ao tratar das experiências de países comunistas e socialistas-marxistas ele conclui melancolicamente: “ não funciona”, “é inviável”.
Outro economista que trata desse assunto, dentre uma avalanche de pesquisas e obras produzidas nas últimas décadas, vale destacar o livro do economista Daron Acemoglu, professor do Massachusetts Institute of Tecnology(MIT), escrito em parceria com James Robinson, da Universidade de Harvard, que procura explicar os diferentes graus de riqueza das nações: “ Por que As Nações Fracassam”. Uma lição marcante das investigações desses professores é sobre o sucesso do desenvolvimento da Coreia do Sul e Taiwan(Formosa) que são muito referenciados nas salas de aula das academias de economia do Brasil. Em 50 anos eles aumentaram dez vez o Produto Interno Bruto per capita. A explicação mais plausível, diz os autores do livro best-sellers, é que: “nos dois casos, esses países precisaram fazer alguma coisa para se livrar da ameaça comunista”. Mas, tal transição de sucesso para a democracia aconteceu muito sob a pressão do Ocidente, especialmente dos Estados Unidos. Não é o caso do Brasil, mas há quem diga que a esquerda acalenta um sonho de estabelecer no Brasil uma democracia totalitária esquizofrênica, jamais testada na prática. Não acredito nessa hipótese absurda, muito difundida pelo Partido Comunista do Brasil e pelos admiradores do modelo de Fidel Castro. Mas, se não for dado um freio sério no sistema político que estamos vivendo, vamos quebrar.
Em entrevista que o prof. Daron Acemoglu deu a Revista Exame, do dia 23 de dezembro de 2015, ele se revela otimista com o Brasil. No entanto, acha que é preciso fazer uma análise detalhada de como o novo governo vai solucionar a questão que levou o País a afundar em escândalos de corrupção e neutralizar tentativas de segmentos partidário que colocam suas ideologias acima da necessidade de servir à sociedade.
 
O conteúdo do texto é de inteira responsabilidade do(a) autor(a) e não necessariamente reflete o ponto de vista do Focus.

Mais notícias