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A experiência e perspectivas da cooperação técnica de Israel – Nordeste, por Pedro Sisnando

Pedro Sisnando Leite é economista com pós-graduação em desenvolvimento econômico e planejamento regional em Israel. Membro do Instituto do Ceará e da Academia de Ciências Sociais do Ceará. É professor titular (aposentado) do programa de mestrado (CAEN) da UFC, onde foi também Pró-Reitor de Planejamento. No Banco do Nordeste, ocupou o cargo de economista e Chefe da Divisão de Estudos Agrícolas do Escritório Técnico de Estudos Econômicos. No período de 1995-2002, exerceu a função de Secretário de Estado de Desenvolvimento Rural do Ceará. Publicou cerca de 40 livros em sua área de especialização e escreveu muitos artigos para jornais e revistas.

Desde a década de setenta que o Nordeste tem contado com a cooperação e assistência técnica de Israel por meio de diversas modalidades de acordos e atuação, especialmente no âmbito do desenvolvimento rural. A vinculação de Israel com o Brasil ocorreu oficialmente com a instalação da Missão de Assistência Técnica junto a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste em 1962, sob a coordenação do israelense Dr. David Bruhis. Como chefe da Divisão de Estudos Rurais do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste, do Banco do Nordeste, e professor da Universidade Federal do Ceará nos Cursos de economia e ciências agrárias, tive a oportunidade de participar diretamente em muitas dessas atividades de cooperação técnica. Especialmente porque participei de curso de pós-graduação em desenvolvimento rural e planejamento integrado num Centro Acadêmico daquele país onde se encontravam as maiores autoridades envolvidas na fase pioneira do desenvolvimento de Israel.
Outros técnicos do BNB e da SUDENE também participaram de programas de capacitação similares, patrocinados pelas Nações Unidas, ao longo dos anos, donde tornou-se possível o início de atividades de relacionamento e cooperação técnica e amizade entre os dois países. Em 1966, aliás, foi realizado na SUDENE um encontro dos 25 ex-bolsistas dos vários programas de treinamento referidos e criada uma associação para tratar de experiências profissionais e intercâmbio com Israel, quando fui eleito presidente da nóvel organização.
O então presidente do Banco do Nordeste, economista Rubens Vaz da Costa, e o Dr. João Gonçalves de Sousa (cearense), Diretor de Capacitação da Organização dos Estados Americanos visitaram Israel e acordaram na conveniência de organizarem um programa de cooperação técnica no âmbito do treinamento e pesquisas econômicas no Nordeste do Brasil com apoio de Israel. O Dr. Raanan Weitz, Diretor do Settlement Study Center, veio ao Nordeste para avaliação das nossas condições. Em resumo, foram feitas as negociações e no início da década de setenta teve início em Fortaleza um programa de especialização em Planejamento e Execução de Programas de Desenvolvimento Rural Integrado, evitando o deslocamento de técnicos do Nordeste para aquele País e reduzindo os custos com essa finalidade.
O Banco do Nordeste do Brasil, em cooperação com a Universidade Federal do Ceará, SUDENE e DNOCS,  manteve  durante quinze anos, um convênio de cooperação acadêmica e técnica com Israel no campo do treinamento e da pesquisa econômica,  com excelentes resultados para o Nordeste, e outros Estados do Norte do País que mandaram muitos técnicos participarem desses programas.
O programa de cursos de especialização em desenvolvimento rural integrado, com duração de seis meses, treinou mais de 500 técnicos instrutores de todos os Estados do Norte e Nordeste. A metodologia ensinada nesses cursos foi multiplicada para centenas de outros especialistas, formando uma elite de pessoal capacitado em desenvolvimento rural integrado. Ao mesmo tempo, várias pesquisas foram realizadas e publicadas sobre industrialização rural, cooperativismo e irrigação, com a participação de equipes mistas brasileira/israelense, com larga experiência em suas respectivas áreas de trabalho.
O renomado professor Raanan Weitz explica que os objetivos desse programa de cooperação do seu país com o Nordeste era ajudar a produzir melhorias na vida diária da gente comum. Com a experiência de ter sido um dos responsáveis pelo pujante desenvolvimento rural de Israel, o Dr. Raanan Weitz esclarece que a promoção do desenvolvimento econômico social equilibrado requer cuidadosa capacitação técnica dos planejadores e executores. Daí a insistência dos israelenses em treinamento, tanto em outros países como em Israel. Segundo essa filosofia, não existe país subdesenvolvido, mas recursos humanos não desenvolvidos. De fato, o desenvolvimento do capital humano é o elemento propulsor fundamental do avanço material, social e cultural do homem.
A história econômica nos ensina, entretanto, que as soluções nunca podem ser as mesmas para todas as nações. Cada país tem suas peculiaridades quanto à dotação de recursos naturais, condições sociais, políticas e institucionais. Conforme se sabe, Israel conta com uma profícua experiência, mas que reflete circunstâncias únicas impossíveis de serem reproduzidas literalmente em outros países. Por isso, a experiência desse país deve ser adaptada para fazer frente às necessidades locais, pois ela não deve ser transplantada. Não se pode copiar modelos de desenvolvimento econômico, lembrava o professor David Bruhis, mas aproveitar experiência. Israel., portanto, pode ser uma fonte de inspiração e de exemplo orientador para a concretização das nossas aspirações de desenvolvimento econômico regional. Ali existem vários sistemas econômicos simultâneos, com resultados vitoriosos em cada caso. A organização cooperativa (Moshav), a forma comunitária de exploração agrícola (Kibutz), a industrialização rural, a exploração do semiárido; são exemplo dos quais se pode aprender para o uso no Nordeste do Brasil. Uma das contribuições marcantes desse programa de capacitação foi a elaboração de projetos concretos de desenvolvimento rural integrado como parte essencial do treinamento. Assim, ao final de cada curso era apresentado um projeto regional. A nova estratégia de desenvolvimento rural enfatiza que a programação do setor agrícola isoladamente é insuficiente e inoperante. Quando a agricultura se moderniza, produz bens que requerem transformações. Os agricultores necessitam também de serviços de apoio e sociais adequados, e amenidades condizentes com um padrão de vida dignificante. Para a agricultura progredir é indispensável que todos esses aspectos ocorram simultaneamente. Isto é possível muito bem detalhado.
No caso do Ceará, foram elaborados os Projetos do Baixo Jaguaribe, do Apodi, área até então desconhecida, Tabuleiro de Russas e Baixo Acaraú: todos eles posteriormente transformados em realidade. Assim aconteceu com os outros Estados, inclusive do Baixo São Francisco. Esta contribuição de Israel é praticamente desconhecida. Os professores da nova Universidade de Ben-Gurion também participaram de outros programas de assistência técnica no Ceará no Governo Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara. com a finalidade de  formulação de programas e iniciativas  destinadas ao desenvolvimento econômico com redução da pobreza,  no âmbito do Projeto São José. Participei diretamente destes estudos e ações na condição de Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural do Ceará do Governo Tasso Jereissati e, como voluntário, no Governo Lúcio Alcântara (2003-2006).
Finalmente, nos anos de 2013-2014, os professores israelenses prestaram assistência técnica à Federação das Indústrias do Ceará no desenvolvimento de novos sistemas de modernização da indústria cearense, com base na integração das Universidades com o governo do Estado do Ceará e com os setores produtivos da indústria. Dezenas de pessoas contribuíram na execução desses estudos e projetos. Da parte de Israel, vale destacar a participação dos professores Dr. Raphael Bar-El, Dra. Dafna Schwartz e Dr. David Bantolila. A partir do ano de 2000, além de outros especialistas israelenses  renomados, no caso do Ceará, merecem destaques a continua participação do Dr, Carlos Matos e da Dra. Mônica Clarck Cavalcante (ex-secretários de Estado do Ceará).Para registrar esse monumental trabalho foram   escritos vários livros,  assim como artigos publicados em  revistas científicas no exterior e motivo para a elaboração de muitas teses  acadêmicas na Universidade de Ben-Gurion. Também tiverem papel importante a divulgação desses estudos em várias contribuições apresentadas em Congressos das Associações de Ciência Regional em várias partes do mundo.
Atualmente as relações entre o Brasil e Israel vêm-se fortalecendo conforme manifestações do novo presidente Jair Bolsonaro, tanto do ponto de vista político como na esfera econômico-comercial e de cooperação técnica. É de interesse do Brasil aprofundar essas relações principalmente com vistas a experiência de Israel no desenvolvimento das áreas semiáridas como ocorre no Nordeste. Brasil e Israel já contam com um vasto arcabouço jurídico para cooperação bilateral em muitas atividades. Durante a visita a Autoridade de Inovação de Israel, o Ministro Marcos Pontes da Ciência, Tecnologia e Inovação, em janeiro do corrente ano, discutiu uma proposta de um modelo para o avanço da inovação no Nordeste apresentada pelos professores Raphael Bar-El, Dafna Schwartz e David Bentolila, que colaboram com o Nordeste há muitos anos, conforme já mencionado neste artigo. Este assunto também foi tratado com o Banco do Nordeste do Brasil pelos referidos professores durante a última viagem que fizeram ao Ceará, em dezembro recente. Participei desses entendimentos como representante no Ceará do Centro Bengis de Inovação, da Universidade de Ben-Gurion (Israel). Nos próximos dias 18-26/8, aliás, a referida equipe estará na Universidade de Beijing, na China, participando de conferência sobre esses assuntos, conforme acorde de cooperação que atualmente participam naquele País.

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