Desde a década de setenta que o Nordeste tem contado com a cooperação e assistência técnica de Israel por meio de diversas modalidades de acordos e atuação, especialmente no âmbito do desenvolvimento rural. A vinculação de Israel com o Brasil ocorreu oficialmente com a instalação da Missão de Assistência Técnica junto a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste em 1962, sob a coordenação do israelense Dr. David Bruhis. Como chefe da Divisão de Estudos Rurais do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste, do Banco do Nordeste, e professor da Universidade Federal do Ceará nos Cursos de economia e ciências agrárias, tive a oportunidade de participar diretamente em muitas dessas atividades de cooperação técnica. Especialmente porque participei de curso de pós-graduação em desenvolvimento rural e planejamento integrado num Centro Acadêmico daquele país onde se encontravam as maiores autoridades envolvidas na fase pioneira do desenvolvimento de Israel.
Outros técnicos do BNB e da SUDENE também participaram de programas de capacitação similares, patrocinados pelas Nações Unidas, ao longo dos anos, donde tornou-se possível o início de atividades de relacionamento e cooperação técnica e amizade entre os dois países. Em 1966, aliás, foi realizado na SUDENE um encontro dos 25 ex-bolsistas dos vários programas de treinamento referidos e criada uma associação para tratar de experiências profissionais e intercâmbio com Israel, quando fui eleito presidente da nóvel organização.
O então presidente do Banco do Nordeste, economista Rubens Vaz da Costa, e o Dr. João Gonçalves de Sousa (cearense), Diretor de Capacitação da Organização dos Estados Americanos visitaram Israel e acordaram na conveniência de organizarem um programa de cooperação técnica no âmbito do treinamento e pesquisas econômicas no Nordeste do Brasil com apoio de Israel. O Dr. Raanan Weitz, Diretor do Settlement Study Center, veio ao Nordeste para avaliação das nossas condições. Em resumo, foram feitas as negociações e no início da década de setenta teve início em Fortaleza um programa de especialização em Planejamento e Execução de Programas de Desenvolvimento Rural Integrado, evitando o deslocamento de técnicos do Nordeste para aquele País e reduzindo os custos com essa finalidade.
O Banco do Nordeste do Brasil, em cooperação com a Universidade Federal do Ceará, SUDENE e DNOCS, manteve durante quinze anos, um convênio de cooperação acadêmica e técnica com Israel no campo do treinamento e da pesquisa econômica, com excelentes resultados para o Nordeste, e outros Estados do Norte do País que mandaram muitos técnicos participarem desses programas.
O programa de cursos de especialização em desenvolvimento rural integrado, com duração de seis meses, treinou mais de 500 técnicos instrutores de todos os Estados do Norte e Nordeste. A metodologia ensinada nesses cursos foi multiplicada para centenas de outros especialistas, formando uma elite de pessoal capacitado em desenvolvimento rural integrado. Ao mesmo tempo, várias pesquisas foram realizadas e publicadas sobre industrialização rural, cooperativismo e irrigação, com a participação de equipes mistas brasileira/israelense, com larga experiência em suas respectivas áreas de trabalho.
O renomado professor Raanan Weitz explica que os objetivos desse programa de cooperação do seu país com o Nordeste era ajudar a produzir melhorias na vida diária da gente comum. Com a experiência de ter sido um dos responsáveis pelo pujante desenvolvimento rural de Israel, o Dr. Raanan Weitz esclarece que a promoção do desenvolvimento econômico social equilibrado requer cuidadosa capacitação técnica dos planejadores e executores. Daí a insistência dos israelenses em treinamento, tanto em outros países como em Israel. Segundo essa filosofia, não existe país subdesenvolvido, mas recursos humanos não desenvolvidos. De fato, o desenvolvimento do capital humano é o elemento propulsor fundamental do avanço material, social e cultural do homem.
A história econômica nos ensina, entretanto, que as soluções nunca podem ser as mesmas para todas as nações. Cada país tem suas peculiaridades quanto à dotação de recursos naturais, condições sociais, políticas e institucionais. Conforme se sabe, Israel conta com uma profícua experiência, mas que reflete circunstâncias únicas impossíveis de serem reproduzidas literalmente em outros países. Por isso, a experiência desse país deve ser adaptada para fazer frente às necessidades locais, pois ela não deve ser transplantada. Não se pode copiar modelos de desenvolvimento econômico, lembrava o professor David Bruhis, mas aproveitar experiência. Israel., portanto, pode ser uma fonte de inspiração e de exemplo orientador para a concretização das nossas aspirações de desenvolvimento econômico regional. Ali existem vários sistemas econômicos simultâneos, com resultados vitoriosos em cada caso. A organização cooperativa (Moshav), a forma comunitária de exploração agrícola (Kibutz), a industrialização rural, a exploração do semiárido; são exemplo dos quais se pode aprender para o uso no Nordeste do Brasil. Uma das contribuições marcantes desse programa de capacitação foi a elaboração de projetos concretos de desenvolvimento rural integrado como parte essencial do treinamento. Assim, ao final de cada curso era apresentado um projeto regional. A nova estratégia de desenvolvimento rural enfatiza que a programação do setor agrícola isoladamente é insuficiente e inoperante. Quando a agricultura se moderniza, produz bens que requerem transformações. Os agricultores necessitam também de serviços de apoio e sociais adequados, e amenidades condizentes com um padrão de vida dignificante. Para a agricultura progredir é indispensável que todos esses aspectos ocorram simultaneamente. Isto é possível muito bem detalhado.
No caso do Ceará, foram elaborados os Projetos do Baixo Jaguaribe, do Apodi, área até então desconhecida, Tabuleiro de Russas e Baixo Acaraú: todos eles posteriormente transformados em realidade. Assim aconteceu com os outros Estados, inclusive do Baixo São Francisco. Esta contribuição de Israel é praticamente desconhecida. Os professores da nova Universidade de Ben-Gurion também participaram de outros programas de assistência técnica no Ceará no Governo Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara. com a finalidade de formulação de programas e iniciativas destinadas ao desenvolvimento econômico com redução da pobreza, no âmbito do Projeto São José. Participei diretamente destes estudos e ações na condição de Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural do Ceará do Governo Tasso Jereissati e, como voluntário, no Governo Lúcio Alcântara (2003-2006).
Finalmente, nos anos de 2013-2014, os professores israelenses prestaram assistência técnica à Federação das Indústrias do Ceará no desenvolvimento de novos sistemas de modernização da indústria cearense, com base na integração das Universidades com o governo do Estado do Ceará e com os setores produtivos da indústria. Dezenas de pessoas contribuíram na execução desses estudos e projetos. Da parte de Israel, vale destacar a participação dos professores Dr. Raphael Bar-El, Dra. Dafna Schwartz e Dr. David Bantolila. A partir do ano de 2000, além de outros especialistas israelenses renomados, no caso do Ceará, merecem destaques a continua participação do Dr, Carlos Matos e da Dra. Mônica Clarck Cavalcante (ex-secretários de Estado do Ceará).Para registrar esse monumental trabalho foram escritos vários livros, assim como artigos publicados em revistas científicas no exterior e motivo para a elaboração de muitas teses acadêmicas na Universidade de Ben-Gurion. Também tiverem papel importante a divulgação desses estudos em várias contribuições apresentadas em Congressos das Associações de Ciência Regional em várias partes do mundo.
Atualmente as relações entre o Brasil e Israel vêm-se fortalecendo conforme manifestações do novo presidente Jair Bolsonaro, tanto do ponto de vista político como na esfera econômico-comercial e de cooperação técnica. É de interesse do Brasil aprofundar essas relações principalmente com vistas a experiência de Israel no desenvolvimento das áreas semiáridas como ocorre no Nordeste. Brasil e Israel já contam com um vasto arcabouço jurídico para cooperação bilateral em muitas atividades. Durante a visita a Autoridade de Inovação de Israel, o Ministro Marcos Pontes da Ciência, Tecnologia e Inovação, em janeiro do corrente ano, discutiu uma proposta de um modelo para o avanço da inovação no Nordeste apresentada pelos professores Raphael Bar-El, Dafna Schwartz e David Bentolila, que colaboram com o Nordeste há muitos anos, conforme já mencionado neste artigo. Este assunto também foi tratado com o Banco do Nordeste do Brasil pelos referidos professores durante a última viagem que fizeram ao Ceará, em dezembro recente. Participei desses entendimentos como representante no Ceará do Centro Bengis de Inovação, da Universidade de Ben-Gurion (Israel). Nos próximos dias 18-26/8, aliás, a referida equipe estará na Universidade de Beijing, na China, participando de conferência sobre esses assuntos, conforme acorde de cooperação que atualmente participam naquele País.
Dois amigos. Por Angela Barros Leal
Há quantos anos os dois amigos não se encontravam? Talvez uns 40? –, a esposa arriscara, tentando forçar a memória do marido, e ele dizendo