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A educação é a melhor política contra a pobreza, por Pedro Sisnando

Pedro Sisnando Leite é professor Titular de Teoria Econômica da Universidade Federal do Ceará. economista, formado pela Universidade Federal do Ceará, com pós-graduação em econo-mia rural e planejamento regional em Israel. Foi técnico em desenvolvimento econômico do Banco do Nordeste do Brasil e, durante muitos anos, chefe da Divi são de Estudos Agrícolas desse Banco. Lecionou, como professor adjunto e titular de desenvolvimento econômico, nos cursos de graduação e de mestrado em Teoria Econômica (CAEN) e de Economia Rural da Uni- versidade Federal do Ceará. Na admi-nistração universitária foi Pró-Reitor de Planejamento em duas gestões, nos períodos de 1983-87 e 1991-95. Dedicou grande parte de sua vida acadêmica e profissional estudando experiências de desenvolvimento econômico em países desenvolvidos e emergentes, visitando mais de vinte nações com esse objetivo. Publicou vinte estudos e livros didáticos sobre problemas do desenvolvimento econô-mico, planejamento e desenvolvimento regional. Tem contribuído com muitos artigos e ensaios para jornais e revistas. Pertence, como membro efetivo, da Academia Cearense de Ciências, da Academia de Ciências Sociais do Ceará e do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará. Foi vice-pre-sidente da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural e, como membro da Sociedade Internacional de Economia Rural, tem participado como conferencista convidado de vários encontros internacionais. Foi bolsista pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (1988-1992). Ocupou a função de Secretário de Estado da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado do Ceará, em duas adminis-trações do Governador Tasso Jereissati, em 1995-98 e 1999-2002
Pedro Sisnando Leite é professor Titular de Teoria Econômica da UFC Tem pós-graduação em economia rural e planejamento regional em Israel. Foi técnico em desenvolvimento econômico do BNB. Foi Pró-Reitor de Planejamento em duas gestões (1983-87 e 1991-95). Ocupou a função de Secretário de Estado da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado do Ceará, em duas administrações do Governador Tasso Jereissati, em 1995-98 e 1999-2002.

A situação da economia do Nordeste é caracterizada por grande desigualdade, com elevada proporção da população na condição de pobreza. Os esforços que foram feitos pelos governantes ao longo de muitas décadas não foram suficientes ou inadequados para assegurar uma maior participação da população no processo de crescimento regional. As famílias pobres não contaram com oportunidades educacionais de seus filhos, que são obrigados a trabalhar para complemento do orçamento familiar.
A análise da situação escolar revela também uma grave inadequação da escola à realidade dos alunos, famílias e grupos sociais. Há deficiências metodológicas e padrões de avaliação, ou seja, falta de qualidade no sistema educacional em todos os níveis, segundo diversos estudos.
Muitos foram as políticas e programas educacionais adotados no Nordeste, bem como no País, objetivando oferecer as condições reclamadas pela população e a sociedade. O presente artigo tem por finalidade evidenciar algumas questões pertinentes ao objetivo de melhorar os padrões educacionais levando em conta as experiências acumuladas e as novas necessidades do desenvolvimento econômico mais equilibrado e socialmente justo.
Nunca houve antes tanta concordância sobre um assunto como está ocorrendo agora sobre o papel da educação. Essa tendência também levanta, em toda a parte, questões difíceis e emocionais sobre o que mudar nas políticas públicas educacionais. Muitos estudos e pesquisas demonstram que a educação é a maior garantia para o desenvolvimento pessoal e o progresso social.
Ela é também a melhor distribuição dos frutos da riqueza, desde que conduzida para os atores do desenvolvimento. Relatório do Banco Mundial sobre o Desenvolvimento Humano afirma que as sociedades precisam reconhecer que a sua riqueza real é o seu povo. A Excessiva obsessão pela riqueza material que tem dominado o mundo nas últimas décadas, está em contraposição com o objetivo principal dos novos sentimentos sociais, que é o enriquecimento das vidas humanas através da educação.
Aristóteles escrevia que “a riqueza não é evidentemente o bem que procuramos, é apenas um meio para alcançar qualquer coisa mais”. Ou seja, a educação deve estar a serviço do desenvolvimento da pessoa humana e da sociedade, assim como da transformação das estruturas econômicas, jurídicas e sócio-políticos para a criação de uma sociedade mais participativa e solidária do povo.
Isto significa que o conhecimento é um bem extraordinário porque ele pertence a pessoa que o tem e ninguém pode tirar dele. Para todos os lugares que a pessoa vai leva consigo esta riqueza. Daí porque as diferenças entre pobres e ricos não é por que eles têm menos capital, mas porque têm menos conhecimento e saber.
Dentre as conclusões da II Conferência do Episcopado latino-americano foi feito um apelo aos responsáveis pela educação para que ofereçam oportunidade educativa a todos os homens, afim que consigam alcançar, por si próprio, sua integração na sociedade, com plenitude de participação social, econômica, cultural e política.
No seu livro sobre a “Sociedade Pós-capitalista”, o notável escritor Peter Drucker, ao descrever a pessoa instruída da nova era do conhecimento, que estamos vivendo no século XXI, diz que o conhecimento não é impessoal como o dinheiro ou não reside em um livro, em um banco de dados ou em um programa de computador. “O conhecimento está sempre incorporado a uma pessoa, é transportado por uma pessoa, é criado, ampliado, aplicado ou aperfeiçoado por uma pessoa e usado bem ou mal, por uma pessoa”.
Drucker ressalta também que em todas as sociedades anteriores, as pessoas instruídas eram um ornamento. Mas na atual sociedade do conhecimento é o emblema, o símbolo, “a porta bandeira da sociedade”. Isto deve mudar o sentido e a orientação da educação que carece de modo crucial de políticas direcionadas para essa nova era.
No que se refere a educação de base, em vista desse novo contexto, não deve visar apenas a alfabetização, mas também capacitar o homem para convertê-lo em agente consciente de um desenvolvimento integral. Relativamente à escola, deveria ser uma verdadeira comunidade fundada por todos os elementos que a integram: associação de pais, os jovens, os educadores. Por sua vez, o sucesso ou fracasso dos esforços para aliviar a pobreza pela educação repousa na habilidade de tratar os valores prevalecentes na própria pobreza. É justiça, e não caridade, o que a população pobre deseja.
O atraso econômico tem muitas causas, mas a principal é ser a educação considerada como uma despesa de consumo e não de investimento. A crença também de que os resultados da educação são de longo prazo, tem levado muitos governantes a destinarem os recursos orçamentários para projetos e obras que apresentem resultados imediatos, negligenciando o fundamental.
A mudança dessa mentalidade é politicamente factível? Em muitos países foi possível, só que não é fácil entre nós que temos uma cultura de resultados imediatos. Entretanto, diz um provérbio chinês que “se você deseja um ano de prosperidade, cultive grãos. Se você deseja dez anos de prosperidade, cultive arvores. Se você deseja cem anos de prosperidade, cultive homens”. As novas décadas irão exigir dos políticos e governantes coragem, inovação e liderança sem precedentes para levar avante uma reformulação necessária da educação.
E preciso considerar que a educação tem dois efeitos na pobreza. Primeiro, ela aumenta a capacidade das pessoas, melhora o nível gerencial, bem como a continuidade de modo sustentável de suas atividades produtivas. Mas igualmente importante pode ser o segundo efeito da educação que é a motivação e a aspiração para melhorar os rendimentos e o padrão de vida.
Desse modo, mesmo nas situações onde os retornos econômicos da educação são determinantes, os resultados sociais são sempre siginicativos. O Economista Harvey Brazer (Social and Economic Determinant of the Demand of Education, 1962) estudando donde provem as aspirações, responde: “Todas as pessoas têm aspirações, mas é a educação que controla a extensão, o tipo e a qualidade da aspiração que as pessoas têm”.
Na UNESCO (Paris), em 02/06/80, o Papa João Paulo II afirmou que “A educação é libertadora não somente em escolher o que fazer, mas principalmente a liberdade pessoal de agir em plena consciência, inspirado pelos valores objetivos de uma vida humana condigna, numa ação em que se realiza como pessoa”. O fato fundamental é que homem seja espiritualmente desenvolvido, isto é, o homem plenamente educado é sujeito de seu próprio destino.

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