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A Diplomacia Brasileira e a Capital Eterna de Israel

Catarina Rochamonte é graduada em Filosofia pela UECE, Mestre em Filosofia pela UFRN e Doutora em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Por Catarina Rochamonte
Egito, Qatar e as Nações Unidas mediavam um acordo de paz entre Israel e a organização terrorista Hamas quando uma operação secreta de Israel em Gaza, que matou um comandante do Hamas, recrudesceu o conflito. Em resposta à operação militar, cerca de cem foguetes foram lançados da faixa de Gaza contra Israel no intervalo de uma hora, continuando com menor intensidade durante a noite.
Israel, por sua vez, voltou a bombardear Gaza. O Hamas e outros grupos palestinos anunciaram um cessar-fogo com Israel, alcançado com o patrocínio do Egito, mas cidadãos israelenses protestaram contra a trégua. O ministério da defesa israelense desmentiu o cessar das operações de Israel e seguimos com mais um capítulo do aparentemente insolúvel conflito que – apesar de distante de nós – sempre mobilizou de algum modo os espectros ideológicos da nossa política, hoje mais claros e mais explícitos.
Por motivos que precisariam bem mais do que esse espaço para serem explicados pode-se facilmente constatar que a esquerda tende quase naturalmente (ou inconscientemente) para aquilo que entendem como sendo a “causa palestina” e incorrem não poucas vezes em um discurso celerado contra Israel, enquanto a direita tende a valorizar essa nação demonstrando-lhe apoio. Podemos lembrar que em 2010 o Brasil, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, reconheceu a existência do Estado Palestino com as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias (quando Israel ocupou militarmente a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental). Já Dilma Rousseff, em 2014, ordenou a retirada do embaixador brasileiro em Tel Aviv durante um conflito em Gaza, além de ter feito na ONU um discurso no qual criticava a ação militar dos Estados Unidos e de países aliados contra o grupo terrorista Estado Islâmico. Em 2016, ela negou a anuência diplomática a Dani Dayan, que havia sido nomeado por Benjamim Netanyahu para o cargo de embaixador em Brasília.
No cômputo geral, portanto, os anos em que o Partido dos Trabalhadores estiveram no poder foram marcados pela tônica do velho discurso anti-imperialista com críticas pueris aos EUA, apoio aos países árabes (inclusive a organizações terroristas) e crítica sistemática a Israel. Estamos prestes, portanto, a dar uma guinada radical na nossa política externa. Bolsonaro sempre explicitou suas boas relações com o Estado judeu. Em uma de suas viagens a Israel, o ministro israelense da Agricultura, Uri Ariel, ofereceu-lhe tecnologia para fornecer água às regiões brasileiras afetadas pela seca; a tecnologia de ponta desenvolvida por especialistas de seu país. Tão logo foi eleito, Bolsonaro reiterou sua promessa de campanha de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém: “Israel é um Estado soberano e nós o respeitamos”, afirmou o presidente eleito em seu Twitter.
A mídia tradicional dramatiza a questão falando em tom grandiloquente que Bolsonaro questiona um consenso internacional de sete décadas. Mas, se levarmos a fundo a história do povo judeu, deveríamos dizer que um consenso de sete décadas não é nada perto de um consenso de milênios da relação dos judeus com a cidade na qual o Rei Davi reinou sobre todo o Israel; e que eles, judeus do mundo todo, consideram sua capital eterna: Jerusalém.  
Essa perda de sentido histórico, de sentido de pertencimento a uma história é assunto de relevância para o novo ministro das Relações Exteriores anunciado por Bolsonaro, o diplomata Ernesto Araújo, cujas prerrogativas não foram suficientes para mantê-lo a salvo das críticas mordazes dos que acham que consenso internacional entre burocratas da ONU e União Europeia tem mais relevância que o sentido espiritual do Ocidente, que esse mesmo diplomata os acusa de terem perdido.
Ernesto Araújo escreve com familiaridade e propriedade sobre temas há muito tempo tratados por Olavo de Carvalho e bastante difundido entre seus alunos. Na minha rede social eu me deparei com comentários entusiasmados de um dos alunos do professor Olavo:“O novo chanceler manja de metapolítica, perenialismo, ocultismo guenoniano.”; “Vivi para ver o novo ministro das Relações Exteriores do Brasil citando René Guénon e Julius Evola”. As  críticas, porém, sobrepujaram os elogios e, seguindo a onda dos jornalistas do establishment que chamaram o novo chanceler de “cabo Daciolo intelectualizado”, muita gente escreveu algo do tipo: “inaugura-se a era das relações internacionais segundo Olavo de Carvalho. Parabéns aos envolvidos”. As críticas foram tantas que já se especula a possibilidade de Bolsonaro voltar atrás nessa nomeação.
Nós já tivemos um presidente que financiou ditaduras na América Latina e na África e que se congratulou alegremente com Ahmadinejad, sendo tão querido pelos países muçulmanos que a presidente do PT, Gleise Hoffmann, foi à TV Al Jazeera pedir ajuda ao mundo árabe para tirá-lo da prisão. Tivemos, em seguida, uma presidente que foi à ONU dizer que precisávamos dialogar com o Estado Islâmico e estocar vento, mas a catástrofe da nossa política externa virá, segundo os nossos circunspectos analistas, porque o novo ministro  indicado por Bolsonaro é antiglobalista, antimarxista e antipetista.
O fato é que a nossa política externa já é uma catástrofe por covardia e por ideologia chã. Que o Brasil deixe então de ser o anão diplomático que vem sendo e volte a ter grandeza, começando por ajudar a libertar de vez os venezuelanos da tirania de Nicolás Maduro e por criticar quem deve ser criticado: a organização terrorista do Hamas e não Israel. Se Bolsonaro realmente transferir a nossa embaixada para Jerusalém em apoio a Israel daremos um grande passo para uma nova era na história da nossa diplomacia.
Catarina Rochamonte escreve artigos semanais para o Focus.jor

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