Pesquisar
Pesquisar
Close this search box.

A África e o Brasil na nova economia mundial, por Igor Macedo de Lucena

Articulista do Focus, Igor Macedo de Lucena é economista e empresário. Professor do curso de Ciências Econômicas da UniFanor Wyden; Fellow Associate of the Chatham House – the Royal Institute of International Affairs  e Membre Associé du IFRI – Institut Français des Relations Internationales.

O continente africano está mudando rapidamente e as oportunidades de negócios que se apresentam para o Brasil não podem ser ignoradas. Neste ano de 2019 entra em vigor o Acordo de Livre Comércio Continental Africano que criará um mercado comum com 44 países africanos, totalizando um PIB conjunto de 2 trilhões de dólares e 1 bilhão de pessoas.
A necessidade de obras de infraestrutura e o crescimento populacional do continente já atraem capitais da China, da Rússia e da Índia, de modo que o crescimento da região deve ser superior ao crescimento da América Latina no início do século passado, alterando fundamentalmente as características da África.
Nesse contexto a 7ª edição do Fórum Brasil África, realizado em São Paulo entre os dias 12 e 13 de novembro, apresentou como tema principal “segurança alimentar: caminho para o crescimento econômico”. Durante o evento, cerca de 300 representantes de governos, setor privado, academia e investidores trocaram experiências, discutiram oportunidades valiosas e também divulgaram um vasto conhecimento relacionado a possíveis soluções para a erradicação da fome, além da promoção do desenvolvimento sustentável no Brasil, nos países da América Latina e no continente africano.
De 2004 a 2014 as exportações brasileiras para os países africanos aumentaram 131%, sendo açúcar, carne bovina, aves e cereais os destaques desses fluxos. A agricultura como propulsor do comércio internacional entre as duas regiões também tem o potencial de destravar oportunidades valiosas para outros setores econômicos interligados como infraestrutura, educação, crédito, transportes, máquinas e equipamentos. Nesse sentido, pude participar do painel “Nurturing a productive agriculture international trade landscape” como economista pesquisador do Instituto Brasil África juntamente  com a Sra. Luana Ozemela, CEO da Development Impact Managers and Advisors, a Sra. Fernanda Leite, gerente do International Trade Center, o Sr. Tamer Mansour, secretário geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e do Sr. Hippolyte Fofack, economista chefe e diretor de pesquisa e cooperação internacional do Afreximbank.

“Você acha que a agricultura é o maior e mais lucrativo setor do Brasil e da África?”, essa pergunta foi feita pelo mediador Omar Ben Yedder e abriu o painel, levando a importantes discussões sobre como superar os desafios e criar estratégias eficazes para estabelecer relações comerciais mais justas dentro do atual cenário de comércio entre o Brasil e o continente africano.
Para a sra. Fernanda Leite, “há muito trabalho a ser feito e precisamos saber onde e como as pessoas consomem determinados produtos, a fim de entender a demanda e construir uma estratégia de investimento”. Ela acrescentou que a China e outros países vêm fazendo negócios vigorosamente na África. “Onde está o Brasil, principalmente na agricultura?” foi a sua grande indagação.
Fofack destaca que “o Brasil tem nos ajudado e pode ajudar ainda mais, principalmente em termos de industrialização e energias renováveis”. O fato de o governo brasileiro demonstrar na abertura deste evento um fortalecimento das relações entre o país e o continente africano é uma mensagem clara de que grandes parcerias poderão surgir em um futuro próximo. Foi significativa a mensagem de abertura do evento com o vice-presidente General Hamilton Mourão.
A senhora Luana Ozemela ressaltou que lembra do bloqueio sofrido pelo Catar em 2017: “o bloqueio obrigou o país a melhorar suas estratégias de auto suficiência. O país nos mostrou como eles conseguiram se recuperar em menos de dois anos”. Ela realmente acredita no potencial do setor agrícola e acrescentou que o Catar está ansioso para fortalecer as relações com o Brasil.
Quando tratamos de comércio internacional é impossível não falarmos da atual guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Para dominar as relações econômicas de longo prazo, é necessário entender as metodologias liberais e aquelas iliberais que vêm ocorrendo em todo o mundo por diversos atores, sejam eles Estados, empresas multinacionais ou entidades internacionais. Encontrar estratégias multilaterais que tragam crescimento econômico, mesmo no meio do período de crise é fundamental para que as relações do Brasil com os países africanos se desenvolva. O Brasil e seu potencial agrícola, em termos de lucro, reservas internacionais e desenvolvimento econômico das sociedades, foi a resposta para a pergunta inicial desse painel sobre a importância da agricultura para o nosso país.
Uma das alternativas apresentadas, que poderia criar um cenário de comércio mais intenso entre o Brasil e a África, consiste em desenvolver relações triangulares entre Estados, empresas multinacionais e entidades de cooperação internacionais que conjuntamente são capazes de canalizar técnicas, recursos, tecnologias e equipamentos para o setor da agricultura. Nesse sentido os governos não serão capazes de resolver todos os problemas de integração e desenvolvimento sozinhos, mas esse é um momento apropriado para estimular soluções como essa, devido às baixas taxas de juros globais combinadas com a enorme quantidade de dinheiro disponível para investimentos nos países desenvolvidos. Atualmente não faz sentido manter o capital no sistema financeiro, é necessário redirecionar esses recursos para o setor produtivo e estimular os acordos comerciais.
Os desafios para estabelecer um cenário de comércio justo e intenso entre o Brasil e a África passam por uma melhor regulamentação do “business environment”, informações mais precisas para os investidores, mais segurança e integração as cadeias globais de valor e o desenvolvimento de tecnologias que impulsionem a competitividade do setor agrícola.

Mais notícias