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19 Tábatas, por Ricardo Alcântara

Ricardo Alcântara é publicitário e escritor.

Tábata Amaral tem vida de cinema. Não é Silva, como Lula e Marina, mas tem com ambos, em comum, uma história bonita para contar: nasceu em família assalariada, superou limitações terríveis e, por força do próprio talento, hoje ocupa espaços em geral reservados para os que nasceram à margem da ampla faixa de exclusão social.
De semblante pré-adolescente, a deputada mobilizou atenção quando, em defesa da Educação (cujos efeitos conheceu como poucos), peitou um ministro com tal destreza que ele caiu tão logo encerrado o encontro. Nunca se vira alguém demolir um ministro com tamanha delicadeza. Ao ameaçá-la agora com expulsão do partido, Ciro Gomes sabe que mira um personagem especial. Escreva aí: não o fará.
Mas não é somente sobre ela, este artigo, mas também sobre os outros 18 deputados da oposição moderada (PDT e PSB) que votaram a favor do projeto de governo para a reforma da Previdência. Não vou entrar no mérito da questão em si. Não arrisco vaticínios sobre temas que não domino. Tenho opinião formada, com base em fontes confiáveis, mas é de política que quero tratar.
Repare: um terço, um em cada três deputados daqueles partidos votaram, no fundamental, a favor do projeto do governo. Considere a plausível hipótese de que alguns mais votaram contra apenas por obediência partidária. Resta, então, a pergunta, certamente incômoda para os caciques da esquerda light: é caso de expulsar membros eleitos ou refletir honestamente sobre a estratégia política adotada?
É pertinente questionar, uma vez que os dirigentes de PDT e PSB estiveram no poder por década e meia de governos lulistas (como base de apoio parlamentar e participação nos ministérios): o que fizeram eles de razoavelmente sério para prevenir o estado de coisas que, sob o ângulo de corte liberal do atual governo, levou agora a medidas tão duras?
Deixa que eu chuto: nada. Não fizeram nada. Agem agora como engenheiros de obra pronta. Não só Previdência. Temas relevantes como reforma tributária e segurança pública nunca mobilizaram o Lulismo numa medida mínima da necessidade: ora para não desagradar as corporações sindicais, ora para não contrariar os governadores; ora para não decepcionar o parlamento, ora para não pisar nos calos da periferia e seus comandos.
Portanto, aqui não digo que Tábata Amaral e os outros 18 rebeldes – repito: um terço das bancadas – fizeram a coisa certa. Mas sei que as causas de tanto descompasso comprometem muito mais seus acusadores do que aos deputados: foram omissos quando estavam no poder e cobram obediência de quem tem agora o que eles não tiveram antes: coragem de dar a cara a tapa para defender o que acreditam sem mirar as tabelas das pesquisas eleitorais.
Independente de concordar ou não com o terço audacioso, digo: como postura, a deles me agrada mais. Muito mais.
O conteúdo do texto é de inteira responsabilidade do(a) autor(a) e não necessariamente reflete o ponto de vista do Focus.

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